Dos sertões pernambucanos ao Piauí
“A triste experiência baiana custara-nos a brincadeira de cerca de trezentas vidas”, lembra Ítalo Landucci, com amargura, destacando ainda “o elevado número de ferido” (Landucci, op. cit.). O historiador Daniel Aarão Reis lembra o percurso duro desde 30 de abril, que se encerrou a manobra do “laço húngaro”. Até 2 de julho, foram percorridos quase 3 mil quilômetros, “numa média diária de 46 [quilômetros]” (Daniel Aarão Reis, op. cit.) Na campanha da Bahia (ida e volta), passando por Minas Gerais rapidamente, foram percorridos 5 mil quilômetros, na maior parte do tempo com soldados a pé e jagunços no encalço.
Landucci indaga: “de onde eles [os revolucionários] auferiam tamanha resistência? Por que sempre dispostos e resignados? Qual a disciplina que os mantinha unidas na desgraça?”. “Só a cega confiança nos seus chefes e a solidariedade fraternal, cimentada por sequência ininterrupta de perigos comuns, podiam realizar o milagre daquela coesão”, respondeu o revolucionário.
Enfim, a travessia para Pernambuco completada em 2 de julho, no dia seguinte, a marcha para o oeste retomaria. “Dois dias depois, os rebeldes devem ter lembrado que aquela aventura começara dois anos antes, mas não houve registro de comemorações”, escreve Aarão Reis (op. cit.).
“Prestes”, escreveu o secretário da Coluna, Lourenço Moreira Lima, “via coroado de êxito o plano de campanha que idealizar ao invadirmos a Bahia, em fins de fevereiro. Permanecemos nesse Estado durante quatro meses e dias, percorrendo-o de norte a sul e de sul a norte, bem como parte de Minas, fazendo face a cerca de trinta mil adversários, com os quais sustentamos constantes combates, sempre vitoriosos” (op. cit.).
“A extraordinária desproporção entre os nossos recursos em armas, munições e homens”, diz, “não nos permitiu esmagá-los. Não fomos, porém, batidos, e o plano de campanha adotado pelo nosso E.M. foi executado com a mais rigorosa exatidão. Faltando-nos os recursos que mandaram pedir ao marechal Isidoro e o apoio do povo baiano, retrocedemos e repassamos o São Francisco, colocando-nos num terreno onde os bernardescos não nos poderiam aniquilar. A campanha da Bahia e Minas foi mais uma vitória da inteligência sobre a superioridade do número e dos elementos” (idem).
“A Coluna perdeu nessa campanha duzentos e tantos homens, entre mortos, prisioneiros, extraviados e desertores, ficando reduzida a novecentos combatentes, no máximo, mal-armados e pessimamente municiados. A maior parte dessas perdas se verificou nas potreadas, contra as quais se encarniçavam os adversários, armando-lhes emboscadas terríveis” (idem).
Findada a “estrada cruel” e a travessia do São Francisco, agora a Coluna marchava pelos sertões de Pernambuco rumo ao sul do Piauí. “Os jagunços de Horácio de Mattos, Franklin de Albuquerque, Honório Granja e Abílio Wolney continuavam no seu encalço, financiados e armados pelo governo”, escreve Anita Leocádia Prestes (op. cit.).
A Coluna levantou acampamento às onze horas da manhã, indo sestear três léguas ao oeste na fazenda Roçado. Uma força comandada pelo capitão Benício dos Santos e uma outra do tenente Brasil ocuparam a cidade de Belém, na margem do rio, sendo bem recebidas pela população local e obrigando a tropa policial que a guarnecia a fugir. No dia 4 de julho, sestearam na fazenda Semeão e acamparam na fazenda Lagoa da Pedra Vermelha. No dia seguinte, segundo aniversário da revolução, não houve comemorações: sestearam em Barra do Chapéu e atravessaram o povoado Riacho Pequeno.
Depois, acamparam em Murici, onde, segundo Moreira Lima, “foi rigorosamente castigado e expulso da Coluna o sargento Guilherme, do Destacamento Cordeiro, por haver estuprado uma moça residente nas cercanias” — um crime que seria passível de fuzilamento no revolucionário Exército Vermelho de Leon Trótski. Percebe-se, portanto, que os líderes da Coluna Prestes, como é natural dos movimentos revolucionários pequeno-burgueses, ainda estavam amarrados aos preceitos morais cristãos, que o impedia de tomar medidas mais duras contra integrantes indisciplinados. Aliás, um tratamento desproporcionalmente leve foi visto durante toda a campanha, mesmo contra os mais ferrenhos traíras, organizadores de motins, etc. O erro pelo não fuzilamento do sargento foi confirmado alguns dias depois, quando “um dos nossos flancos bateu uma tropa de cangaceiros reunida e chefiada por esse indivíduo”.
No dia 6, os revolucionários percorreram seis léguas e meia e sestearam na fazenda Varzea Redonda. Depois, marcharam mais duas léguas e meia e acamparam na fazenda Barra. No dia seguinte, passaram pela cidade de Leopoldina, onde encontraram o prefeito e parte da população fugira. Acamparam, mais tarde, na fazenda Alexandrina. No dia 8, sestearam à margem do rio Salgueiro, na fazenda Brígida, e acamparam, uma légua à frente, na fazenda Pau d’Arco. Uma tropa da Coluna bateu uma força liderada pelo coronel Pedro Luiz, sem grandes acontecimentos.
Em 9 de julho, ocuparam a cidade de Ouricuri após um combate de uma hora com a força que estava lá. A população dessa cidade também fugira. Três léguas adiante, acamparam na fazenda Bode. Mandaram uma força para a cidade de Bodocó, que fora recebida sem hostilidade pela população. Nessa região, Lampião vagava praticando suas pilhagens.
Moreira Lima, então, relata um episódio que retrata bem a situação de abandono na qual viviam os sertanejos, entre os “coronéis”, o cangaço, a corrupção da Igreja, a extrema pobreza, a falta de leis, etc.
“Uma potreada ocupou num domingo, pela manhã, uma povoação cujo nome não me lembro, e ali aguardou, junto à igreja, a chegada dos fiéis que, certamente, iriam à missa. Pouco tempo depois, começaram a aparecer homens, mulheres e crianças, todos montados em jumentos cuidadosamente encilhados. Os cavalheiros eram pessoas visivelmente abastadas. Os soldados estranharam aquele fato e indagaram se não havia cavalos na região. Os fiéis responderam que existiam e bons. Eles, porém, só iam às missas em jumentos porque o vigário gostava muito de bons cavalos e ficava com os que apareciam. E, como temiam, ser excomungados se não satisfizessem “seu” vigário, como acontecera a outros, ‘defendiam-se’ por aquela forma” (idem).
Seria, no entanto, uma calúnia generalizar esse tipo de banditismo para todos os chefes religiosos do interior brasileiro. Como vimos, inúmeros padres e vigários apoiaram a Coluna e receberam bem os guerrilheiros, atuando ao lado daquele povo esquecido contra as leis dos “coronéis” e do governo.
Enfim, no dia 10, os revolucionários passaram no povoado Barra de São Pedro, cuja população também fugira; vadearam o rio Brigada e acamparam no arraial Campinas, passando pelo povoado Olho d’Água. Nesse povoado, o soldado Zacharias, conhecido como Maneta, do 3º Destacamento, “matou estupidamente à faca um rapaz dali, sendo punido com rigor, expulso da Coluna e entregue ao subdelegado local” (idem).
No dia 11, sestearam na fazenda S. Filipe e começaram a subir a serra Dois Irmãos, na divisa com o Piauí, onde chegaram no mesmo dia, no povoado Campinas. “Ali estivemos com o vigário de Paulista, que vinha de Joazeiro, e nos deu notícias da grande concentração de tropa inimiga que fora feita no norte da Bahia para se opor a que atravessássemos o S. Francisco”, contra Moreira Lima, confirmando a colaboração de alguns líderes religiosos com a Coluna, conforme mencionado acima.
Acamparam na fazenda Boqueirãozinho. No seu relato minucioso dos locais atravessados pela Coluna, Moreira Lima, então, diz: “pouco me tenho referido às estradas de automóveis do Nordeste, construídas com o dinheiro tomado emprestado nos Estados Unidos para as obras contra as secas. São, com raríssimas exceções, péssimas carreteiras que atestam a roubalheira que houve em tal serviço” (idem).
Em 12 de julho, sestearam no rio Muquém, na margem do rio homônimo, tendo passado pela vila Simões, “onde se apresentaram o sargento Lino e uma praça, que se haviam extraviado, quando marchávamos para o Ceará”. Depois acamparam na fazenda Realidade, onde se apresentaram cinco voluntários oriundos do Ceará, chefiados por Alfredo Sobreira. “Esses moços”, diz Moreira Lima, “à exceção do último [Sobreira], morreram todos em combate”.
“Sobreira”, relata o secretário da Coluna, “procurara unir-se à Coluna em Piancó, onde chegou depois da nossa saída, à frente de uns trinta homens, que foram dispensados pelos bernardescos, tendo ele caído prisioneiro. Levado para o cemitério, a fim de ser morto, conseguiu escapar comprando por 500$000 um ‘romeiro’ do padre Cícero, que fora encarregado de matá-lo, tendo assistido à degola da velha Tia Maria e a surra selvagem dado no sargento Gabriel, bem como a sua morte à faca, conforme referi no primeiro volume, constatando a bravura com que nosso companheiro se portou diante dos seus infames algozes”.
Naquela fazenda, uma potreada entregou a Prestes uma carta remetida do povoado de Queimados em Pernambuco:
“Queimados, 12 de julho de 1926.
Ilustre Prezado am.º General Prestes
Cordiais saudações, e muitíssimas felicidades junto os que vos acompanham luctando pelo nosso direito que a muito não temos, e já muitíssimos annos vivemos debaixo de uma escravidão tyranna, e que nosso pae Redemptor será sempre a vossa guia para libertar nossos direitos. Recebi hoje um pequeno nº. de soldados de V.S. a que eles é quem poderá informar que é minha diminuta pessoa aqui neste pequeno Povoado de Pernambuco, muito desejava conhecer V.S.ª pessoalmente. porém não faltará ocasião, apenas tendo a boa tradição que de coração abraço-o. Viva e Revolta.
De V.S.º um menor cr.º
João Carvalho.
N.B. — De já peço desculpar-me num só a minha péssima redacção como os erros e borrões.
O seu Carv.º”
Os revolucionários ficaram na fazenda até a manhã de 13 de julho, chegando à cidade de Jaicós. Prosseguiram de tarde, marchando até a fazenda Estrela, onde acamparam. O destacamento de Siqueira Campos seguiu para a cidade de Picos por outra estrada. No dia seguinte, a Coluna entrou na fazenda Samambaia, chegando à tal cidade às cinco horas da tarde.
“Picos”, conta Moreira Lima, “é grande e rica, possuindo boa edificação e ruas largas. (…) Soubemos terem estado presos na sua cadeia os nossos companheiros tenentes Antônio de Souza (Souzão) e Eculydes Neiva, que seguiram mais tarde para Teresina, onde foram postos em liberdade. Informaram-nos também ter estado preso ali o brigada Miguel, aprisionado em Valença, o qual foi levado para o sul, ignorando-se até hoje o destino que lhe deram. Disseram-nos os seus habitantes que as forças bernardescas, que passaram por ali, praticaram os maiores desatinos, saqueando a população e estuprando as mulheres, chegando a sua brutalidade a arrancar os brincos das orelhas das moças e das senhoras. À noite, realizamos um comício, falando eu, Zezé Pinheiro e Cordeiro de Faria. Nessa cidade deixei o cargo de secretário da Coluna, passando a servir no Destacamento João Alberto” (idem).
Em Oeiras, Amarante e Floriano
Em 15 de julho, a Coluna seguiu em direção a Oeiras, antiga capital do Piauí, marchando pelos vales dos rios Itaim e Canindé. Sestearam em Angical e Buritizinho e acampando na fazenda Tranqueiras. No dia seguinte, sestearam em Lindeza e acamparam em Várzea da Cruz, enquanto o destacamento de João Alberto ficou na Barra do Canindé. Em 17 de julho, a Coluna chegou em Oeiras, permanecendo até o dia 23, quando começou a marchar em direção ao sul do estado.
“Durante o tempo em que o Q.G. permaneceu naquela cidade, a situação da Coluna era a seguinte: Vanguarda, Siqueira, acampado algumas léguas além na estrada para Jerumenha; flanco direito, João Alberto, em marcha sobre Amarante; e contingente Ary Freire, avançando sobre Floriano; centro, destacamento Dutra, com o Q.G. na dita cidade de Oeiras, e retaguarda, destacamento Cordeiro, na fazenda Tranqueiras” (idem).
“Poucos dias depois”, conta o agora ex-secretário, “forças bernardescas de Volney e Granja atacaram a retaguarda, sendo repelidas, repetindo-se essas investidas, conforme relatarei adiante”.
“Ary ocupou Floriano, recebendo as maiores demonstrações de simpatia por parte de toda a sua população que, dessa vez, não abandonou a cidade, ali encontrando o juiz de direito, prefeito, delegado de polícia, deputado federal Ribeiro Gonçalves, que mais tarde fez um discurso na Câmara acusando-nos de prática de violências, apesar de ter sido testemunha da correção com que nossa tropa procedeu. O destacamento João Alberto acampou a 17 [de julho] na fazenda Lagoa da Estrada, avançando dez léguas, e a 19, entrou na cidade de Amarante, cobrindo catorze léguas. Essa marcha foi feita por péssimos caminhos, descendo e subindo serranias terríveis. A população de Amarante conservou-se nas suas casas, inclusive o delegado de polícia, que nos prestou bons serviços. Ali permanecemos até a manhã de 22, tendo sido ocupadas por piquetes nossos, as vilas de São Pedro e Regeneração, ao norte”.
“Continuamos a receber queixas por toda a parte por onde passamos das violências praticadas pelos bernardescos contra a população, sendo-nos relatados os saques, incêndios, surras, assassínios e estupros cometidos por esses indivíduos. Os bernardescos, sabendo que amparáramos várias pessoas, distribuindo-lhes comida, obrigaram as mesmas a entregar-lhes o triplo, quíntuplo e mais do que haviam recebido, tendo roubado os miseráveis haveres das pobres meretrizes, sob o pretexto de terem ganho dinheiro com os nossos soldados, surrando-as cruelmente e degolando quase todos os prisioneiros que fizeram, tendo se salientado pela sua ferocidade o antigo delegado de Amarante, de nome João Martins que, sendo um ébrio incorrigível, aproveitou-se da ocasião para fazer uma grande adega de bebidas alcoólicas roubadas ao comércio”.
“Um senhor residente nessa cidade, conhecido pelo apelido Manula, que simpatiza com a Revolução e muitos serviços nos prestara quando ali estivéramos, tendo chegado a Teresina na véspera da nossa entrada em Amarante, nos comunicou acharem-se concentrados naquela cidade, três batalhões do Exército, afim de nos enfrentar”.
“Apresentou-se o soldado Joaquim Boiadeiro, que se achava extraviado desde janeiro (…) e confirmou as mortes dos soldados Vicente e do menino Aldo e a prisão de Jaguncinho, que estava em poder de um oficial de polícia, de nome Bias. Visitou-nos o vigário Virgílio, que nos convidou para assistirmos a uma festa que se realizava na igreja do Coração de Jesus. Comparecemos a esse templo, que estava repleto de famílias. Grande parte da cidade fora destruída pela cheia do Parnaíba, após a nossa passagem para o sul. Fizemos as nossas refeições, durante a nossa estada em Amarante, na casa de um velho de oitenta anos, chamado Tio Jorge, fabricante de pão que, dizia ele, era o melhor do Brasil. (…) Eu e João Alberto causamos, involuntariamente, um grande desgosto à cidade de Amarante: batemos os seus campeões de gamão numa partida em que nos empenhamos.”
O destacamento de João Alberto, então, seguiu para Floriano, pela margem do Rio Paranaíba. Sesteou no sítio Lages e acampou à margem do Riacho d’Areia. No dia 23 de julho, eles sestearam na fazenda Coroatá e chegaram na cidade à tarde. Nesse dia, foi publicado o último número do jornal da Coluna, O Libertador (nº10), agora editado por Pinheiro Machado (não confundir com o ex-senador, que acompanhara Ary Freire.
“Realizamos um comício, pouco depois da minha chegada, falando eu e o Pinheiro perante considerável assistência, dentre a qual se destacavam várias famílias”, conta Moreira Lima. “O povo acorria aos comícios que fizemos durante a marcha e nos aplaudia, não tendo, porém, aparecido uma só pessoa nos lugares onde os promovemos que usasse da palavra. Atribuímos essa atitude ao justo receio das represálias exercidas pelos bernardescos, após a nossa passagem, contra quem se manifestasse francamente a nosso favor”.
“A população de Floriano queixou-se-nos também das violências de que foi vítima por parte dos bernardescos que ali estiveram e telegrafou ao Presidente do Estado pedindo-lhe não permitir a ida de forças legais para ali, afim de não sofrer novos ultrajes”.
“O fazendeiro Carlindo Nunes, tio do nosso companheiro capitão Manoel Mendes de Morais, estava em Floriano e nos declarou ter reunido gente contra nós, em dezembro de 1925, por ter sido iludido, pois sendo um homem ignorante, deixara-se levar pelas calúnias que o governo espalhara contra as nossas forças”.
“A população de Floriano”, conta Moreira Lima, “nos cumulou de gentilezas, tendo os tipógrafos do jornal O Floriano, de propriedade do dr. Cavalcanti, juiz de direito da Comarca, composto gratuitamente o número d’O Libertador, que editamos ali. Inúmeras famílias nos presentearam com lindos lenços vermelhos, distintivos das forças revolucionárias. Dentre as pessoas que se destacaram pela simpatia que nos manifestaram, salientou-se o comerciante conhecido por Mundico, com o qual estivéssemos em dezembro de 1925”.
“Ali soubemos”, continua, “terem sido vilmente assassinados numa cadeia do Maranhão, onde se achavam presos, por se haverem extraviado, quando passamos nesse estado, o enfermeiro Oswaldo, nosso companheiro desde São Paulo, e um soldado cujo nome ignoro”.
A Coluna apreendeu, em Oeiras, um telegrama do juiz de direito de São João, Joel Servio, ao governo do Piauí, que, segundo Moreira Lima, “é um atestado insuspeito da espécie de gente que os chefes bernardescos reuniam para nos dar combate”:
“ Telegm.ª Of. n.º v. — 13-7-1926.
De S. Mendes
Doutor Governador do Estado.
Teresina.
Resposta oficial 270 dez deste comunico V. Ex.ª não encontrei ordem coletoria pt. Regresso esta data São João cuja cidade informam ocupada cangaceiros que longe oferecerem defesa eficiente concorrerão mais uma vez alarmar população que informam sua quase totalidade abandonou cidade tendo eu lá minha mulher filhinho expostos consequências improdutiva inconsequente medida apelo sentimentos humanidade V. Ex.ª poupar São João graves prejuízos morais materiais advirão certamente dessa ilusória defesa.
Em São João procurarei meios afastar-me talvez seguindo rumo aí conforme for possível virtude absoluta falta garantia espero autorizará meu afastamento comarca.
Cordiais saudações.
Joel Servio
Juiz Direito.”
Do sul do Piauí ao Tocantins, norte de Goiás
O destacamento João Alberto deixou Floriano na tarde de 24 de julho, seguindo reunidos com o contingente de Ary Freire. No dia seguinte, chegaram à vila de Jerumenha, à margem do rio Gurguéia. A população novamente se queixou das barbaridades cometidas pelas tropas governistas. Diante disso, o estado do Piauí forneceu vários voluntários à Coluna. Em 26 de julho, chegou na vila o destacamento de Djalma Dutra, que recebera ordem de esperar o restante da Coluna.
O destacamento de Cordeiro de Faria, que fazia a retaguarda, dias antes, em 22 de julho, fora atacada por uma força inimiga procedente de Picos, na fazenda Tranqueiras, obrigando a guarda da retaguarda a recuar até Cobra. Em 23 de julho, o destacamento Dutra seguiu para Nazaré pela estrada Oeiras-Floriano, afim de marchar para Jerumenha, enquanto o grosso da Coluna seguiu pela estrada Oeiras-Jerumenha, sesteando em Tranqueiras de Baixo e acampando em Pobre. Em 24 de julho, descansou em Recreio e acampou em Olho d’Água, na fazenda Baús.
No dia seguinte, o destacamento Cordeiro, que acampara em Tanque Novo, realizou um combate na fazenda Baús, mantendo um forte tiroteio contra tropas inimigas que o atacou. Já a Coluna sesteou em Campo Grande e acampou em Canto, passando pelo povoado Pepita. Em 26 de julho, a Coluna sesteou em S. Francisco e acampou em Sítio, enquanto o destacamento Dutra se reuniu aos que já estavam em Jerumenha.
Em 27, a Coluna sesteou na fazenda Morros e acampou em Venda do Genipapo, atravessando o rio Gurguéia. No mesmo dia, a guarda da retaguarda, agora realizada pelo destacamento de Siqueira Campos, repeliu dois ataques do inimigo, “uma às quatro horas da tarde e outro às onze da noite, ocasionando-lhe muitas baixas numa emboscada que lhe armou”. A Coluna levantou acampamento de noite e chegou em Brejo na manhã do dia 28.
O capitão Mendes de Moraes, que fazia uma marcha de flanco, enfrentou uma tropa inimiga, “desbaratando-a e pondo-a em fuga”. Ainda, uma potreada do 3º destacamento bateu-se na vila S. José ocasionando baixas nas tropas bernardescas que a guarneciam. A Coluna sesteou em Ruas e acampou em Pé da Ladeira. Os destacamentos de João Alberto e Dutra, então, se reuniram à Coluna em Brejão.
“No penúltimo encontro que tivemos, fizemos três prisioneiros, inclusive o nosso companheiro de nome Irineo, que caíra nas mãos do inimigo antes de atravessarmos o S. Francisco. Eles nos informaram que os bernardescos procuravam um meio para assassinar Miguel Costa e Prestes e que marchavam à nossa retaguarda e flanco Volney, Franklin, Granja e Horácio” (idem).
Em 29 de julho, sestear em Brejão e acamparam em Gracioso, percorrendo várias léguas da Serra do Uruçuí. No dia seguinte, avançaram por uma vasta chapada, transpondo várias serras, até sestearem na fazenda Canudal. Acamparam, sem seguida, em Buritizal.
“Chegaram, à noite”, conta Moreira Lima, “alguns companheiros extraviados que comunicaram terem sido mortos pelo inimigo os soldados Cento e Vinte, João Andrade, Duplat e três outros cujos nomes ignoro, bem como o capitão Feliciano, que andavam potreando. Informaram esses companheiros — que estiveram prisioneiros do inimigo e conseguiram fugir — que se achava entre eles o preto Luiz, desertor do 3º [destacamento], o qual se oferecera para assassinar à traição Miguel Costa e Prestes. Tivemos outras perdas nas potreadas por haver o adversário armado várias emboscadas contra elas.” (idem).
Em 31 de julho, um pelotão chefiado pelo tenente Nelson foi à vila de Uruçuí e destruiu o telégrafo. Porém, em vez de retirar-se imediatamente, como lhe fora ordenado, permaneceu na vila ainda por algum tempo, sendo surpreendido pela coluna de Volney. Conseguiu escapar, não sem antes perder cinco homens.
A Coluna, então, preparou uma emboscada em Buritizal. O inimigo, todavia, demorou muito na mencionada vila, motivo pelo qual seguiu marcha pela margem do rio Uruçuí. Mais adiante, preparam uma emboscada, em Bananeira, numa estreita garganta junto ao rio Estiva, afluente do rio Burití. Esperaram o inimigo durante todo dia e toda a noite do dia 1º de agosto. No entanto, “tendo chegado alguns retardatários que informaram se achar o inimigo muito longe, resolveu-se mandar o capitão Benício a Buritizal, afim de ver se o encontrava e atraía. Esse oficial regressou na madrugada de 2 [de agosto], comunicando não ter encontrado adversários em Buritizal” (idem).
Portanto, a Coluna seguiu marcha na manhã do mesmo dia; sestear em Casa de Pedra (Barra do Morrinhos); acamparam à tarde no Porto Bonito (Mata), na margem do Uruçuí, enquanto o Q.G. ficou em Taboca. No dia 3, sestear em Remanso, à margem do mesmo rio, atravessaram vários desfiladeiros, uma vasta chapada e algumas ladeiras difíceis, levando os animais pelas rédeas. Acamparam em Sumidouro, à margem de um riacho homônimo, enquanto o Q.G. acampou em Bonito. No dia 4, reaproximaram-se do Uruçuí e acamparam em S. Diogo. No dia seguinte, sestearam na fazenda do Meio, na margem de Riachão, afluente do Uruçuí, “que atravessamos sobre uma pinguela, passando os animais a nado”. Acamparam na fazenda Malva. Em 6 de agosto, transpuseram várias serras, sestear na fazenda Exú (Cachoeira do Belo Alto) e acamparam em Lagoa Grande. “A cavalhada estava reduzida”, conta Moreira Lima, “não podendo ser substituída por atravessarmos região muito pouco habitada” (idem).
“Saímos de Lagoa Grande às três e meia da madrugada de 7, afim de atingirmos numa só marcha o arruado Pará, distante nove léguas. (…) Chegamos às seis horas da manhã no lugar Cabeceira Alta, duas léguas além de Lagoa Grande. Aí tivemos de subir para um alto chapadão por uma ladeira a pique, de uns cinquenta metros de altura. As cargas foram conduzidas nos ombros dos soldados, não tendo os animais, enfraquecidos, podido galgar a ladeira, de sorte que uma grande parte da tropa ficou a pé.” (idem).
Depois, o Q.G. ficou em Vereda Grande. No dia 8 de agosto, sestear em Brejo; acamparam no povoado Currais, para onde a população da vila de Bom Jesus fugira. No dia seguinte, ocuparam a tal vila, onde “não existem escolas públicas, apesar de ser cabeça de comarca, havendo apenas uma aula particular dirigida por um frade”. Sestearam, duas léguas adiante, em Lagoa do Barros e, marchando por um caminho acidentado, chegaram na fazenda Salgadinho, onde acamparam.
Em 10 de agosto, sestear na fazenda Buriti Grande e acamparam na fazenda Raposa. “Passamos na fazenda Brejinho, de Raymundo Leopoldo Rocha, que nos informou haver Franklin de Albuquerque passado há dias para Santo Antônio de Gibóis, afim de aguardar ali a chegada de Volney, e ter Horácio de Mattos transitado a doze léguas em direção a Goiás.”
Saíram de Raposa em 11 de agosto, prosseguindo a marcha para o sudoeste em direção ao Goiás. Sestear em Limoeiro, passaram na fazenda Barro Vermelho e acamparam em Olho d’Água da Fazenda Nova, junto a um riacho homônimo. No dia seguinte, sestearam em Palmeira, percorrendo um caminho acidentado, a maior parte da tropa a pé. “O passadio”, conta Moreira Lima, “era péssimo, faltando o necessário para a alimentação, inclusive a carne, por ser raro o gado nessa região, que é quase deserta”. Acamparam em Vareda Grande.
Em 13 de agosto, sestearam na margem do Riacho Frio, passando por “um caminho muito acidentado, cheio de ladeiras. As serras dessa zona estão se desmoronando. Continuamos a encontrar as árvores despidas de folhas, atravessando grandes matas de grossos troncos escuros e galhos inteiramente nus. Marcharemos cercados pela imensa melancolia que se evolava daquelas florestas mortas, que se erguiam como se se houvessem petrificado e ali se erguesse presas de uma desolação infinita sob a luminosidade flamejante que descia do céu, arqueado a distância, como uma vasta ânfora azul voltada sobre elas, e em cuja face cintilava, alto, o sol do meio-dia, como uma centelha inapagável” (idem). Enfim, acamparam à margem do riacho Macaco, em Retiro.
No dia seguinte, sestearam em Porteira do Riacho, vadear os riachos Macaco, Grande e Frio, enquanto uma potreada que esteve nas cercanias de Paranaguá, doze léguas adiante, informou ter a cidade sido abandonada desde o dia 1º pela população, receando as tropas bernardescas que se dirigiam para lá. A Coluna, então, marchou entre a dita cidade e a vila de Correntes, acampando em Angico. No dia 15, sestearam em Gado Bravo, onde descobriram haver forças inimigas nas vilas de Correntes e Santo Antônio de Giboés, e que Horácio de Mattos se encontrava em Formosa, na Bahia, à margem do rio Preto, a caminho de Goiás. Assim, uma potreada foi até a vila de Correntes, atirando numa patrulha adversária com a qual se enfrentou.
“Chegando ao nosso conhecimento terem sido enviados dessa vila a Horácio de Mattos cem animais, mandamos o tenente Saraiva apreendê-los ou dispersá-los, tendo esse bravo oficial conseguido apoderar-se de vinte cavalos, quarenta whinchesters e alguma munição, dispersando o resto do comboio” (idem).
Os revolucionários vadearam o rio Palmeiras e acamparam em Tamaduá, enquanto o Q.G. ficou em Cabeça de Boi. No dia 16, sestearam na fazenda Brejo e prenderam um sargento polícia piauiense na fazenda Esperança, que exercia a função de guarda fiscal e confirmou a permanência de Horácio de Mattos em Formosa. Uma potreada bateu uma patrulha inimiga, matando-lhe um homem, na fazenda Refrigério, e outra dispersou trinta inimigos no flanco esquerdo, tomando-lhe oito cavalos.
Saíram de Brejo, voltando à Bahia rapidamente, acamparam na margem do riacho Buritizal, tendo galgado a Serra da Tabatinga. Essa serra serve de limite entre os estados do Piauí e da Bahia, e foi percorrida “por uma ladeira íngreme, transpondo depois uma chapada de duas léguas de extensão e ganhando mais tarde o vale, já em território baiano, para o qual baixamos por uma longa ladeira de descida abrupta” (idem).
Saíram na manhã do dia 17, deixando Buritizal e atingindo o vale da “vereda” do São José, até chegar num local conhecido como Casa do Joaquim, onde sestearam. Prosseguiram a marcha, atravessaram o rio e acamparam em Cabeceira do Brejão.
Em 18 de agosto, antes de descansar, houve 15 minutos de tiroteio entre a guarda avançada da Coluna, comandada pelo capitão Odilon Guimarães, contra as forças inimigas. O capitão mandou informar ao restante da guerrilha que havia uma grande força inimiga na margem do rio Sapão, que pertencia a Horácio de Mattos e avançava de Formosa. A Coluna prosseguiu a marcha, passando entre o rio e a Serra da Tabatinga, “à vista do inimigo, que assistiu tranquilamente a nossa travessia na impossibilidade de tentar impedi-la, visto não poder atravessar o dito rio, ou por temer uma reação séria” (idem).
“Da nossa parte, não sendo possível passar para a margem esquerda do Sapão, resolvemos não desperdiçar munições sem resultados práticos”. “Entretanto”, relata Moreira Lima, “a guarda da retaguarda do Destacamento Dutra, ao defrontar a jagunçada de Horácio, não se conteve e prorrompeu numa tremenda vaia, originando-se disso um tiroteio que durou uns dez ou quinze minutos sem nenhum prejuízo pessoal” (idem).
Mais tarde, os revolucionários apreenderam uma carta na qual Horácio de Mattos, dirigindo-se ao comandante do 29º B.C., dava conta dos “referidos sucessos”:
“Ilmo. Snr. Capm. Luis Tavares Guerreiro — Digno Comandante do 29º Batalhão de Caçadores — Em Barreiras.
De Pantol — Nil 25 — Ligação rebeldes sustentaram 8 horas de fogo no dia 18, recuando para tornar investir das 11 às 19 horas até forçarem passagem entre o rio Sapão e a serra do Piauí, tomando direção de Goiaz. As forças estavam distribuidas em muitos lugares, o campo de operações muito vasto, a força alí postada do lado oposto do rio o qual oferece obstáculos enormes e para maior felicidade dos rebeldes o comandante das forças foi inexperiente de organizar meios de transpor o rio com antecedência, procurando fazer isso no momento, dando lugar que forçassem a passagem. Mesmo assim foram tomados muitos arreios, animais e outros objetos. Forças seguem no encalço. Saudações.
- Horacio Mattos”
“Por esse despacho”, ironiza Moreira Lima, “verifica-se haver esse bernardesco elevado aqueles ligeiros tiroteios a dois terríveis combates de oito horas, cada um, o que, se tivesse sido exato, só nos seria lisonjeiro. Nós, porém, nos cingimos à verdade e não estamos dispostos a confirmar as mentiras bernardescas. Tal invencionice, certamente, visava justificar o furto de munições, pois um combate de dezesseis horas de fogo, sustentado por uma tropa de cerca de mil homens, deve consumir um número considerável de tiros. Esses bernardescos têm o cinismo de afirmar que nos bateram em vários combates e que fomos obrigados a emigrar devido à sua ação, o que não é verdade” (idem).
Na guerra, mesmo que seja na tentativa de destruir um pequeno corpo guerrilheiro, as classes dominantes apelam à sua tática tradicional: a mentira. Como “Israel”, sem conseguir infligir danos militares reais à Resistência Palestina, limitando-se ao assassinato de pessoas inocentes e à destruição de infraestrutura civil, a propaganda governista contra a Coluna foi dominada por mentiras atrás de mentiras. Tudo isso para esconder a profunda vergonha de não terem conseguido derrotar os guerrilheiros.
Conforme disse Moreira Lima, as tropas “nos acompanhavam, geralmente à distância”, e “algumas vezes, se aproximavam da nossa retaguarda para serem batidos”.
Os guerrilheiros seguiram a marcha até Tabuada, que atingiram na madrugada do dia 19. Realizaram uma marcha noturna, afastando-se do Sapão para evitar a travessia de atoleiros e transpondo trechos bastante acidentados na Serra da Tabatinga. Na manhã de 19 de agosto, atravessaram o Sapão no dito lugar, onde o rio tem cerca de quinze metros de largura, “sendo fundo e encachoeirado” (idem).
“Transpusemo-lo sobre uma pinguela, passando os animais a nado. Sucedeu-me, nessa passagem, um desastre que poderia ter ocasionado grandes contrariedades, se, pouco depois, o acaso não o houvesse remediado. Ao atravessar o rio, perdi um dos meus sapatos, que foi arrastado pela corrente, que ali era vertiginosa. Naquele momento, o calçado tinha valor extraordinário, porque a cavalhada estava desaparecendo, como de fato aconteceu, tendo sido forçado a andar a pé durante inúmeros dias. Cheguei desolado à margem esquerda. Felizmente, ali vi, junto a um tronco, um par de botinas amarelas. Apoderei-me do que necessitava, ‘defendendo-me’, e afastei-me imediatamente daquele local, antes que aparecesse o dono. E daí em diante, marchei com um sapato preto e uma botina amarela”, relata o ex-secretário da Coluna (idem).
A Coluna descansou na Cabeceira do Buritizano e acampou quatro léguas adiante, em Cabeceira do Hermício (ou Ermiça), “marchando por chapadão sem água, ou ‘travessia’, pela estrada que vai da Bahia a Porto Nacional, em Goiás [no atual Tocantins]”. Saíram de Hermício às cinco horas da manhã do dia 20 de agosto e entraram em Goiás duas léguas adiante. Sestearam em Galhão, na margem do rio homônimo. “Aí encontramos gado, o que não sucedida há muitos dias” (idem). Prosseguiram a marcha e acamparam em Pedra de Amolar. Atravessaram o Rio Galhão por uma ponte e o afluente Carne Assada por uma pinguela, passando os animais a nado.
(Continua…)
Anexo: a divisão do País segundo Moreira Lima
Ao comentar a divisão do então estado de Goiás, anterior à separação oficial de Tocantins, além de tecer elogios poéticos à beleza da paisagem natural goiana, Moreira Lima defende uma nova administração do País. Segundo ele, “não há nenhum motivo de ordem econômica ou política que justifique a atual divisão administrativa do país”. “Os interesses nacionais”, continua, “exigem uma organização mais racional, impondo-se dividir o território do país de outra maneira, podendo ser criados trinta e seis Estados, além do Distrito Federal [a decisão de transferir a capital do Brasil para Brasília foi formalizada em 1891, apesar de só ter sido concluída em 1960] e um território”.
Essa divisão, segundo ele, deveria ser “mais consentânea com as necessidades públicas, atendendo-se, em parte, à extensão territorial, e, em parte, à densidade da população”. “Essa divisão poder-se-á admitir apenas como simples transição para a completa supressão dos estados, substituídos pelos municípios, verdadeira divisão territorial que deve ser adotada para o Brasil”, escreve.
Enfim, sua proposta é a seguinte:
- Acre — antigos departamentos do Alto Acre e Alto Purús (o atual estado só surgiu em 1962);
- Juruá — antigos departamentos do Alto Juruá e Tarauacá;
- Amazonas — região compreendida entre os rios Nhamundá, Amazonas e Solimões;
- Solimões — terras entre o rio homônimo e o Purus;
- Madeira — entre os rios Purus, Solimões, Amazonas e Tapajós;
- Tapajós — entre o rio homônimo, rio Amazonas e Xingu;
- Pará — entre o Xingu e a atual fronteira do Maranhão;
- Amapá — à margem esquerda do Amazonas, a partir do Nhamundá (o atual estado só surgiu em 1988);
- Maranhão — limitado ao sul pelo paralelo 5º;
- Itapicuru — o trecho do atual estado do Maranhão ao sul desse paralelo;
- Piauí — terras à margem direito do rio Canindé;
- Parnaíba — ao sul do referido rio Canindé;
- Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe — com os seus limites atuais;
- Bahia — região à margem direita do São Francisco;
- São Francisco — território baiano à margem esquerda deste rio;
- Espírito Santo e Rio de Janeiro — com os seus limites atuais;
- Guanabara —- atual Distrito Federal (em 1928, no atual RJ), acrescido com um trecho do território mineiro;
- Minas — região à margem direito do rio S. Francisco;
- Alto São Francisco — território mineiro à margem esquerda deste rio;
- Paranaíba — a região conhecida por Triângulo Mineiro;
- Tocantins — a região goiana ao norte do Planalto (o atual estado só surgiu em 1988);
- Goiás — terras ao sul desse Planalto;
- São Paulo — atual território paulista a leste de uma reta que parta de Salto Grande, no rio Paranapanema à fronteira de Minas, no município Poços de Caldas;
- Tietê — região a oeste da referida linha;
- Paraná — região a leste do 8º meridiano;
- Iguaçú — região a oeste do 8º meridiano;
- Santa Catarina — território atual;
- Alto Uruguai — região serrana do Rio Grande do Sul;
- Rio Grande do Sul — a campanha rio-grandense;
- Mato Grosso — o atual território deste estado (em 1928, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul era um só estado) à margem direita dos rios Taquarí e Paraguai, da foz daquele rio até a fronteira da Bolívia, abaixo do forte de Coimbra, norte da Serra de Santa Marta e margem direita do rio Roosevelt, desde as suas nascentes, e a partir destas por uma reta que vá à margem direita do Guaporé;
- Aquidauana — à margem esquerda do rio Taquari;
- Território do Alto Madeira — terras compreendidas entre os ditos rios Roosevelt e Guaporé.
É fato que a atual divisão administrativa do Brasil é arbitrária e ineficiente. Se Moreira Lima estava certo ou não, é necessário um debate. De qualquer forma, fica aqui como curiosidade a proposta do ex-secretário da Coluna Prestes.