Os argentinos foram às urnas no dia 13 de agosto, na primeira etapa do processo eleitoral, as eleições primárias, conhecidas como PASO. Acrônimo de “Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias”, as PASO, mecanismo criado em 2009 e implantado pela primeira vez em 2011, cumpre dois propósitos declarados: (i) definir eventuais disputas internas dentro dos partidos antes do pleito e (ii) impor uma antidemocrática cláusula de barreira, impedindo as siglas que registrem menos de 1,5% dos votos de concorrer.
O resultado das primárias surpreendeu a muitos. O grande vencedor foi Javier Milei, da coalizão La Libertad Avanza que, com 7 milhões de votos, obteve um percentual de 30,5% dos votos. A coalizão da direita tradicional Juntos por el Cambio somou 28,27% dos votos – 16,98% para Patricia Bullrich e 11,29% para Horacio Larreta. A aliança kirchnerista Unión por la Pátria, por sua vez, somou 27,27% – 21,40% para o ministro da Economia, Sérgio Massa, e 5,87% para Juan Grabois.
Foi uma estrondosa vitória da direita argentina em geral. Juntas, as coalizões La Libertad Avanza e Juntos por el Cambio conquistaram quase 60% dos votos. As eleições gerais de outubro, se não tiver lugar nenhum acontecimento ou fenômeno extraordinário – como a participação ativa nas eleições argentinas do governo Lula, que não quer perder seu principal aliado no Mercosul – tende a ser uma disputa entre a direita e a extrema direita. Milei, o vencedor da primeira etapa, sai na frente.
Javier Milei é um candidato da extrema direita e seu programa se baseia num neoliberalismo radical. Sua recente vitória nas primárias indica um acirramento da polarização política dentro da sociedade argentina e um deslocamento do eixo em torno do qual a direita argentina (em sentido amplo) tende a se organizar: do macrismo para o “mileismo”. Analisar essa evolução da direita é fundamental para compreender o fenômeno que pegou desprevenida boa parte da esquerda e da direita.
Golpe de Estado: Macri chega ao poder
Em 2015, o empresáro Mauricio Macri disputou a presidência da Argentina pela coligação de direita Cambiemos. Após vencer a indicação da aliança, avançou para o segundo turno contra o candidato indicado pelo kirchnerismo, Daniel Scioli. Em 22 de novembro, foi eleito presidente, com 51,34% dos votos, encerrando doze anos de governos kirchneristas no país.
Macri, no entanto, não venceu as eleições em condições “normais”. Fato pouco registrado, inclusive pela esquerda argentina (e mundial), a vitória eleitoral de Macri foi parte da onda de golpes de Estado promovidos pelo imperialismo contra os governos nacionalistas burgueses, onda essa que varreu o continente latinoamericano e começou no final da primeira década dos anos 2000. O marco inicial desse movimento foi a derrubada de Manuel Zelaya da presidência de Honduras, em 2009. No Brasil, como é sabido, essa ofensiva golpista se manifestou, sobretudo, na derrubada de Dilma Rousseff do poder em 2016 e na prisão do principal dirigente político do Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva, em 2018.
Na Argentina, a operação golpista adquiriu características similares ao golpismo no Brasil. Estabeleceu-se ali também uma espécie de “Lava Jato”. Cristina Kirchner, principal liderança do nacionalismo burguês na Argentina, foi acossada por uma enxurrada de processos judiciais que começaram já no final do seu mandato presidencial (2007-2015) e se aceleraram e se multiplicaram durante o governo Macri (2015-2019). Foram 12 processos judiciais no total, uma boa parte dos quais anulados ou arquivados posteriormente. Tal como no Brasil, eram processos por supostos casos de corrupção. O “Sergio Moro” argentino tinha nome: Claudio Bonadio, um ex-funcionário do governo pró-imperialista de Carlos Menem (1989-1999) e designado juiz federal na década de 1990 pelo então presidente.
A suja perseguição judicial veio acompanhada por uma campanha venal dos monopólios da imprensa capitalista contra o kirchnerismo. O ponto culminante da campanha golpista talvez tenha sido o assassinato de Alberto Nisman, promotor de um dos processos judiciais contra Cristina Kirchner, em janeiro de 2015. O episódio foi amplamente utilizado pela coalizão direitista de Macri ao acusar Kirchner e o peronismo de estarem envolvidos com o assassinato.
Para os adeptos de uma visão puramente formalista e eleitoral do processo político, a vitória de Macri em 2015 seguiu o rito estabelecido da troca de poder e não implicou qualquer quebra ou ruptura no regime político. Tal visão, no entanto, não corresponde à realidade. A vitória eleitoral de Macri só pode ser compreendida à luz das coordenadas gerais da política imperialista para o continente: a política de golpes de Estado.
Traçando um paralelo com o Brasil, a vitória de Macri seria o equivalente à vitória de Aécio Neves nas eleições de 2014, quando o golpe contra o governo nacionalista capitaneado pelo PT já estava em marcha. Se o candidato tucano tivesse vencido Dilma Rousseff (PT) nas eleições, o golpe aqui no Brasil também teria assumido a forma “branca” que assumira na Argentina.
Crise permanente: macrismo no poder
Macri chega ao poder com a missão de aplicar o programa neoliberal que o imperialismo exige. Numa situação de crise econômica e social, aliado a um quadro de polarização política crescente, seu governo é marcado por crises permanentes.
Uma das primeiras medidas tomadas por Macri logo no início do governo foi a de cortar o subsídio sobre as taxas de água, luz e gás, encarecendo e afetando o acesso das camadas populares a esses serviços – foram os chamados “tarifazos”. Era uma amostra de como seriam os seus quatro anos de mandato.
Ao término da sua gestão, o cenário argentino não poderia ser descrito senão como de catástrofe econômica e social. A moeda local sofreu uma brusca desvalorização. Se, quando Macri assumiu, um dólar custava 14 pesos, quatro anos depois custaria 62,25 pesos. A taxa de inflação escalou durante o seu governo e fechou, no seu último ano de mandato, em 56,5% a.a., índice mais elevado desde 1991. O nível de atividade econômica em 2019 foi 4,9% inferior ao de 2015. O PIB do país se retraiu em três dos quatro anos em que esteve no poder (El país que deja Macri: la economía, 4 años después, Clarín, 2/12/2019). Segundo o INDEC (Instituto Nacional de Estatísticas e Censos), o desemprego no país chegou à casa dos 10%, sendo que, entre as pessoas de 14 a 29 anos, tais índices alcançaram mais de 20%. Dados do Observatório da Dívida Social da Universidade Católica Argentina (UCA) registraram que Macri entregou um país com mais de 40% dos argentinos abaixo da linha da pobreza, um número que só fica atrás dos deixados pela era Menem.
Em 2018, greves, protestos e saques a supermercados sacudiram o país, com a população demonstrando insatisfação com a política recessiva e de austeridade promovida pelo governo. Ao todo, o governo Macri enfrentou cinco greves gerais e centenas de manifestações e atos contra sua política entreguista.
Em maio de 2019, Macri anunciou um pedido de empréstimo junto ao FMI, no valor de 50 bilhões de dólares. Macri colocava o país de joelhos perante os abutres do capital financeiro internacional. O empréstimo, como é de praxe, teria como contrapartida draconianos cortes de gastos sociais. Essa nova submissão ao FMI colocou o governo em nova crise. Federico Sturzenegger, presidente do Banco Central, renunciou ao cargo uma semana após o pedido. Macri o substituiu por Luis Caputo que, por sua vez, também renunciou três meses depois. Mais tarde, o FMI expandiu o empréstimo, com 7 bilhões de dólares extras, com a condição de que o Banco Central argentino tentasse ajustar o peso contra o dólar e que novos cortes de gastos e aumentos de impostos fossem implementados.
É com o país em frangalhos que Macri chegou às eleições presidenciais de 2019. A própria imprensa burguesa pró-imperialista não conseguiu esconder o fracasso do macrismo. Ela acusou o então presidente argentino de ter adotado o “gradualismo” como método para aplicar a política neoliberal, ao invés de utilizar a estratégia do “choque neoliberal” (Macri deixa Argentina com legado econômico sofrível, Valor Econômico, 7/12/2019). Ou seja: o problema não estaria no programa neoliberal, mas na ferramenta “macrista” de aplicação desse programa.
Macri disputou a eleição com Alberto Fernández, membro da ala direita do peronismo, que tinha como vice em sua chapa Cristina Kirchner. Liderança mais popular da esquerda argentina, Kirchner decidiu não encabeçar a chapa – o que seria o mais natural – porque temia ter sua candidatura cassada pelo regime político golpista estabelecido na Argentina. Tratou-se, sem dúvida, de uma capitulação. Entretanto, nem mesmo as capitulações da esquerda foram capazes de superar o fracasso do macrismo. Macri acabou derrotado por Alberto Fernández, por uma margem de dois milhões de votos: Fernández ficou com 48% dos votos, contra 40% do presidente que tentava a reeleição.
Ascensão de Milei
Do ponto de vista da direita argentina enquanto campo político, o resultado das prévias argentinas não significou simplesmente a vitória de Javier Milei, mas também o fracasso retumbante do macrismo. A derrota do peronismo, que lançou como principal candidato o direitista Sergio Massa, ministro da Economia do governo Fernández, e ficou apenas na terceira colocação, ao invés de beneficiar as candidaturas macristas, Patricia Bullrich e Horacio Larreta, beneficiou, na verdade, Javier Milei.
E quem é Javier Milei?
Milei é um economista formado na Universidade de Belgrano, uma instituição privada de ensino superior argentina. Após a graduação, fez especialização na Universidade Torcuato Di Tella, também privada, e passou a dar aulas em instituições de ensino superior. Tornou-se depois consultor de grupos financeiros, como o HSBC, e de capitalistas como Eduardo Eurnekian, um dos homens mais ricos da Argentina, dono da emissora de televisão América e de vários aeroportos. Em 2017, lançou um programa de rádio chamado Demoliendo Mitos (Derrubando mitos), transmitido na emissora online Conexión Abierta no YouTube. O desempenho de Milei no programa, com suas opiniões radicais e seu jeito agressivo, chamou a atenção das emissoras. Na sequência, foi chamado a participar dos programas de horário nobre da televisão argentina, que reúnem personagens variados e discutem sobre todos os assuntos, desde questões prosaicas até problemas de política nacional e internacional – esses programas são conhecidos como farándulas. Milei tornou-se uma figura relativamente conhecida a partir de então.
Em 2019, um de seus amigos mais próximos, José Luis Espert, decidiu criar um partido para reunir economistas defensores do liberalismo. Espert lançou a Frente Despertar e concorreu, ele mesmo, à presidência da Argentina, colhendo 1,4% dos votos. Dois anos depois, Espert voltou a disputar as eleições, desta vez concorrendo a uma cadeira de deputado. Milei se juntou à iniciativa, mas decidiu criar o seu próprio partido. Lançou La Libertad Avanza e concorreu a deputado, elegendo-se ao lado de sua vice atual, Victoria Villarruel.
Na sua campanha presidencial, Milei expôs em mais de uma oportunidade o seu “plano motosserra”. Trata-se de um plano econômico ultraneoliberal. Milei propõe eliminar 10 dos 18 ministérios atualmente existentes no país; seriam extintos os ministérios da Cultura, do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, das Mulheres, do Trabalho, da Saúde e da Educação e de Ciência e Tecnologia; e restariam 8 ministérios: Economia, Justiça, Relações Exteriores, Defesa, Segurança, Interior, Infraestrutura e Capital Humano. Um dos nortes do seu programa é reduzir o tamanho do Estado, reduzindo gastos estatais, eliminando regulações e diminuindo impostos aos capitalistas. Além disso, anunciou que pretende acabar com as obras públicas, para implementar um sistema “como o usado no Chile, de iniciativa privada”. Nessa seara, planeja avançar no processo de privatização das empresas públicas, bem como eliminar o que chama de “aposentadorias privilegiadas da política”. Entre as suas prioridades está promover uma “reforma trabalhista” que favoreça empresas – leia-se: retirada de direitos trabalhistas, como a multa rescisória – e uma diminuição do sistema previdenciário público para favorecer os negócios previdenciários privados. Proposta das mais bombásticas, Milei defende a dolarização da economia argentina, medida defendida por ele como a única capaz de pôr fim à inflação galopante da economia, e o fechamento do Banco Central do país. Em reunião com funcionários do FMI, Milei preveniu-os de que pretende aplicar um ajuste fiscal “mais importante” que o exigido pelo fundo, isto é, um ajuste mais drástico do que o determinado pelo órgão do imperialismo. Em matéria de política externa, Milei descreveu suas propostas como uma “luta global contra socialistas e estatistas”. Congelar as relações com a China “comunista”, segundo maior comprador das exportações argentinas, e retirar a Argentina do Mercosul, são duas das principais medidas declaradas em sua campanha.
Milei, produto do desespero
Um fenômeno se destacou na expressiva vitória do feroz candidato pró-imperialista: o apoio de ampla parcela da juventude argentina. Segundo uma pesquisa da empresa Zuban Córdoba y Associados (publicada em julho de 2023), 41,5% dos jovens entre 16 e 30 anos declararam voto em Milei, quase o dobro do seu rival mais próximo. O jornal argentino Página 12 publicou matéria destacando quem são os jovens que apoiam o programa de Milei: “a geração sem casa, sem carro, sem nada” (“La generación sin casa, sin auto, sin nada”: Los jóvenes que votaron a Milei, Silvina Friera, Página 12, 21/8/2023).
Citando a hiperinflação do país, que ultrapassa 115%, segundo as estatísticas oficiais, o jornal repercute o que pensam jovens como Juliana De Bonis, estudante de Direito na Universidade Nacional de Rosario, que escamoteia o conhecido orgulho nacional de seus compatriotas e defende, sem meias-palavras, a colonização da nação vizinha pelos EUA:
“Por isso, apoio qualquer solução para a inflação, mesmo que nos tornemos uma colônia dos Estados Unidos; é triste o que estou a dizer”, confessa a jovem de 23 anos, “mas temos de sair de tudo isto porque estamos a afundar-nos” (idem).
Outra jovem, ligada à ala jovem de La Libertad Avanza, Mila Zurbriggen, de 24 anos, destaca também o mal-estar generalizado que aflige a população argentina e, em especial, os jovens: “Desde que nascemos, nunca vimos a Argentina bem”, disse ela (Javier Milei, o candidato libertário dos argentinos revoltados, Juan Elman, OpenDemocracy, 12/8/2023).
A candidatura de Milei se nutre do desespero da população argentina, em especial do setor juvenil. Sua agitação política se dirige aos setores sociais mais atingidos pela crise econômica capitalista. Em meio ao desespero decorrente de uma desagregação social crônica e à piora da situação econômica com a hiperinflação, a parcela mais ativa da população argentina, os jovens, apela para uma solução equivalente a uma bomba atômica no país. O programa de Milei, caso fosse aplicado à risca, levaria a uma verdadeira catástrofe econômica e social na Argentina. A juventude, no entanto, cansada das meias-medidas do peronismo e do fracasso econômico do macrismo, enxerga no radicalismo de Milei uma alternativa real de superação do estado de coisas calamitoso em que a sociedade argentina está mergulhada. Trata-se de uma ilusão, sem dúvida. Mas, ainda assim, trata-se de uma ilusão baseada em fundamentos reais.
Massacrada pela crise e sem encontrar uma alternativa revolucionária dos trabalhadores, os jovens voltam-se a quem oferece uma perspectiva de provocar uma mudança radical no regime político, uma perspectiva aparentemente capaz de tirar o povo de sua situação desesperadora e da pobreza crescente. Da catástrofe econômica provocada pelo neoliberalismo e pela debilidade do peronismo e das demais forças políticas da esquerda, criaram-se as condições para um aventureiro radicalizado chegar às eleições do segundo país mais importante do subcontinente, com condições de ser eleito presidente.
Alerta para o Brasil: Milei não é Bolsonaro
A visão dominante que se estabeleceu no Brasil a respeito do fenômeno Milei se caracterizou por considerá-lo o “Bolsonaro” argentino. Tal é o diagnóstico da maioria das análises que abundaram nas páginas da imprensa capitalista, bem como das análises da maioria dos partidos e organizações de esquerda, inclusive as que se reivindicam marxistas. Diante da vitória do candidato de extrema direita nas primárias argentinas, um analista mais aloprado chegou a dizer: “já vimos esse filme”.
A realidade, contudo, indica algo que vai exatamente no sentido contrário. Milei é um filme ainda por estrear no Brasil.
As análises que equiparam Milei e Bolsonaro se baseiam, geralmente, na comparação dos atributos pessoais das duas figuras políticas (figuras agressivas, histriônicas, polêmicas etc.) ou na semelhança de propostas que um e outro professam sobre determinados temas (defesa da propriedade privada, aliança com os EUA, anticomunismo etc.). O que essas análises deixam de fora, entretanto, é justamente o ponto decisivo – a etapa política em que cada um deles emergiu.
Bolsonaro é um produto direto e imediato da queda de Dilma Rousseff e da prisão de Lula, fruto da ofensiva golpista do imperialismo. Seu governo é uma espécie de continuação do governo de Michel Temer e buscou conciliar a consolidação e ampliação das medidas neoliberais iniciadas pelo sucessor golpista de Dilma com as necessidades de conseguir, em alguma medida, certo apoio popular. É por isso que o equivalente de Bolsonaro na Argentina não é Milei, mas Macri. Assim como Bolsonaro, Macri é o candidato da direita que assume o poder na sequência do golpe de Estado contra as forças políticas nacionalistas. Macri assume o poder como resultado imediato do golpe contra o kirchnerismo. Eis então que se tem o elemento fundamental para analisar a questão: Macri e Bolsonaro pertencem à mesma etapa ou estágio da evolução política de seus respectivos países. Esse é o aspecto decisivo da questão, mais importante do que os atributos pessoais e a ideologia específica de cada um.
Milei, por sua vez, se situa numa etapa política diferente relativamente a Macri e Bolsonaro. Mais precisamente, ele pertence a uma etapa política posterior do processo político. Com relação a Macri, isso é óbvio. Mas, com relação a Bolsonaro, isso também é certo, apesar das semelhanças individuais entre eles. Milei é um resultado do fracasso tanto do macrismo quanto do peronismo. No Brasil, seguindo a lógica da argumentação, o equivalente do peronismo é o conjunto das forças organizadas em torno do Partido dos Trabalhadores e de Lula.
O alerta para o Brasil decorre dessa conclusão. A Argentina de hoje pode ser o Brasil de amanhã. É como se o processo político argentino estivesse num estágio mais adiantado em relação ao brasileiro. A Argentina na qual Milei aparece como favorito para vencer as eleições gerais é um cenário que pode vir a se configurar no Brasil no futuro próximo. Nesse sentido, o “Milei” brasileiro ainda estaria por vir.
E qual a condição que precisa ser satisfeita para que ele tenda a emergir? Precisamente o fracasso do nacionalismo burguês no Brasil, vale dizer, o fracasso do governo Lula, sobretudo. Pode-se concluir, finalmente: ainda não vimos esse filme.
Certamente, pairam dúvidas a respeito do fenômeno Milei. Será que o movimento político do qual se apresenta como liderança terá força para se consolidar como corrente política duradoura ou mesmo terá condições minimamente estáveis de governar, em caso de vitória? Afinal, seu partido tem apenas dois anos de vida, dois deputados, nenhum senador, governador ou prefeito. Seu aparato é ainda extremamente reduzido e suas relações políticas são evidentemente incipientes. Será o “mileismo” um fenômeno que fincou raízes e consolidou uma base social sólida, ou antes será apenas um fenômeno transitório e relativamente efêmero, que cederá seu espaço a algum outro movimento?
O próximo capítulo do filme, no qual algumas respostas para as perguntas acima seguramente aparecerão, terá lugar no dia 22 de outubro de 2023, data das eleições gerais na Argentina.