Por muitas décadas, a disputa ao nível mundial entre clubes era realizada entre o campeão europeu e o campeão sul-americano. Entre 1960 e 1979, eram realizados dois jogos, um em cada continente. O Santos de Pelé e companhia conquistou os títulos de 1962 e 1963 da Copa Intercontinental contra Benfica e Milan. A partir de 1980, passou a ser disputada em jogo único no Japão. Nessa década, o Flamengo de Zico e o Grêmio de Renato Gaúcho conquistaram a copa. Nos anos 1990, foi a vez do São Paulo de Telê Santana, Raí e companhia conseguir o bicampeonato em 1992 e 1993 contra Barcelona e Milan.
No ano 2000, a FIFA organizou pela primeira vez um campeonato “oficial”, isto é, organizado por ela própria, o Mundial de Clubes da Fifa no Brasil. A competição contou com representantes de todas as confederações continentais: CONMEBOL (Vasco), UEFA (Manchester United), CONCACAF (Necaxa), AFC (Al-Nassr), CAF (Raja Casablanca) e OFC (South Melbourne). Teve ainda o Corinthians, como representante do país sede, e o Real Madrid como clube convidado pela FIFA. Os oito clubes foram divididos em dois grupos, com os times se enfrentando em cada grupo e classificando os melhores de cada grupo para a final e os segundos melhores para a disputa do terceiro lugar. O Corinthians superou o Real Madrid no saldo de gols e o Vasco de Felipe, Edmundo e Romário ganhou todos os jogos no seu grupo. A final brasileira consagrou o Corinthians campeão do mundo após disputa de pênaltis.
Enquanto isso, a disputa da Copa Intercontinental seguiu até 2004 e apenas em 2005 foi organizado novamente um torneio mundial, com representantes das seis confederações regionais (e, a partir de 2007, também um representante do país sede, como ocorreu em 2000). O São Paulo conquistou o campeonato de 2005 contra o Liverpool, com grande atuação do goleiro-artilheiro Rogério Ceni. Em 2006, foi a vez do Internacional, que derrotou o Barcelona de Ronaldinho Gaúcho na final. Depois disso, apenas o Corinthians de Tite conquistou um título mundial para o Brasil, em 2012, enfrentando o Chelsea na final.
O novo mundial
O novo formato do Mundial de Clubes da FIFA prevê um torneio com 32 clubes a cada quatro anos e teve sua implementação adiada duas vezes por problemas de calendário devido à pandemia de Covid. No final de 2023, foi anunciado que sua primeira edição seria realizada nos Estados Unidos entre junho e julho de 2025, como Copa do Mundo de Clubes. As vagas foram distribuídas da seguinte maneira entre as confederações regionais: uma vaga para a Confederação de Futebol da Oceania (OFC), duas vagas para a Confederação Asiática de Futebol (AFC), cinco para a CONCACAF, seis vagas para a CONMEBOL, seis vagas para a Confederação Africana de Futebol (CAF) e incríveis doze vagas para a UEFA.
Finalmente, a distribuição por países ficou assim: quatro clubes do Brasil, os último quatro campeões continentais (Botafogo, Palmeiras, Flamengo e Fluminense), três dos Estados Unidos (Inter Miami, Los Angeles FC e Seattle Sounders), dois da Argentina (Boca Juniors e River Plate), México (Monterrey e Pachuca), Portugal (Porto e Benfica), Espanha (Real Madrid e Atlético de Madrid), Alemanha (Bayern de Munique e Borussia Dortmund), Inglaterra (Chelsea e Manchester City) e Itália (Inter de Milão e Juventus). Com apenas um clube participando tivemos França (Paris Saint-German), Áustria (Red Bull Salzburg), Egito (Al Ahly), Marrocos (Wydad AC), Tunísia (Espérance), África do Sul (Mamelodi Sundowns), Arábia Saudita (Al-Hilal), Emirados Árabes Unidos (Al Ain), Coreia do Sul (Ulsan Hyundai), Japão (Urawa Reds) e Nova Zelândia (Auckland City).
Os clubes ficaram distribuídos em oito grupos:
Grupo A: Palmeiras, Inter Miami, Porto e Al-Ahly.
Grupo B: PSG, Botafogo, Atlético de Madrid, Seattle Sounders.
Grupo C: Benfica, Bayern de Munique, Boca Juniors, Auckland City.
Grupo D: Flamengo, Chelsea, Espérance, Los Angeles FC.
Grupo E: Inter de Milão, Monterrey, River Plate, Urawa Reds.
Grupo F: Borussia Dortmund, Fluminense, Mamelodi Sundowns, Ulsan.
Grupo G: Manchester City, Juventus, Al Ain, Wydad AC.
Grupo H: Real Madrid, Al-Hilal, RB Salzburg, Pachuca.
Os contrastes econômicos
Contrariando a expectativa propagandeada na imprensa esportiva antinacional, os quatro clubes brasileiros passaram pela primeira fase, inclusive o Botafogo, que estava no chamado “grupo da morte” com PSG e Atlético de Madrid. Enquanto os outros três brasileiros foram colocados com cabeças-de-chave de seus respectivos grupos, ou seja, colocados no Pote 1, por serem campeões da Libertadores, a Conmebol, atendendo às reclamações dos clubes argentinos (classificados pelo ranqueamento), moveu o Glorioso, campeão da Libertadores de 2024, para o Pote 3, colocando o River Plate no Pote 1. Assim, o Botafogo foi o único clube brasileiro a disputar contra dois europeus — dos potes 1 e 2 — já na Fase de Grupos. Assim, o Botafogo estaria no grupo mais difícil da competição.
Em geral, a diferença no valor financeiro dos elencos europeus e brasileiros realmente é notável. Quatro dos europeus presentes no Mundial contam com elencos avaliados em mais de um bilhão de euros: Real Madrid, Manchester City, PSG e Chelsea. Entre 500 milhões e um bilhão de euros, mais quatro europeus: Bayern de Munique, Internazionale de Milão, Juventus e Atlético de Madrid. O elenco brasileiro avaliado como mais valioso foi o do Palmeiras, estimado em 252,55 milhões de euros, seguido de perto pelo do Flamengo, estimado em 221,35 milhões. O elenco do Botafogo teve valor estimado em 163,2 milhões de euros e o do Fluminense, 82,65 milhões. Para a sorte dos clubes brasileiros e de quem gosta de futebol, essa disparidade econômica não garante vida fácil para os clubes europeus.
Outro dado econômico relevante é a dimensão das folhas salariais dos clubes disputando a competição. Nesse quesito, o Bayern de Munique sobe para o segundo lugar com uma folha anual de 274,5 milhões de euros, atrás apenas da folha de 279,2 milhões do Real Madrid. À frente de alguns europeus aparece o saudita Al-Hilal, financiado pelo Fundo Público de Investimento presidido pelo príncipe herdeiro da Arábia Saudita. A folha de 176,9 milhões de euros é quatro vezes maior que a do Flamengo, clube brasileiro com a maior folha salarial na competição. Botafogo e Fluminense ficam abaixo até dos argentinos Boca Juniors e River Plate e do mexicano Monterrey.
É importante registrar ainda a participação de 141 jogadores brasileiros, sendo o país com mais representantes individualmente. Desses, 46 atuam por equipes estrangeiras. Com quatro brasileiros no Real Madrid, Porto e Al-Hilal; três no Manchester City, PSG, Pachuca, Urawa Reds e Wydad AC; dois brasileiros na Inter de Milão, Juventus, Mamelodi Sundowns, Espérance, Los Angeles FC e Ulsan. Os demais clubes estrangeiros com um brasileiro no elenco: Chelsea, Borussia Dortmund, Atlético de Madrid, Al Ain, River Plate, Inter Miami e Seattle Sounders. Esse é um aspecto muito importante do processo econômico que acaba minando as bases do futebol brasileiro. Nossos jogadores saem do País após pouco destaque ou até antes disso, com casos de jogadores brasileiros que acabam até estreando como profissionais fora do Brasil.
A única confederação que não contou com brasileiros foi a Confederação de Futebol da Oceania, que trouxe um time semi-amador, o Auckland City da Nova Zelândia. O desempenho do Auckland City trouxe à tona o caráter pouco desenvolvido do esporte na Oceania, com um elenco composto por jogadores que, na verdade, desempenham outras profissões, não se dedicando profissionalmente ao futebol. São corretores de imóveis, engenheiros, estoquistas, estudantes universitários, professores, limpadores de piscina, barbeiros e por aí vai. Como expresso pelo meio-campista Gerard Garriga:
“Somos um time amador. Meus colegas são pintores, professores, trabalhadores de depósito ou corretores imobiliários. Posso dizer que só ganho a vida com futebol porque, além do meu trabalho como jogador, também trabalho como treinador na academia de futebol do nosso clube”.
Palmeiras
Representante brasileiro no Grupo A, o Palmeiras estreou com um empate sem gols contra o Porto. Apesar de dominar o jogo, a equipe paulistana perdeu diversas chances de abrir o placar, especialmente no primeiro tempo, com destaque para a atuação do jovem Estevão, que quase marcou em diferentes oportunidades. Além de erros de finalização, o ataque palmeirense também foi parado por grandes defesas do português Cláudio Ramos, como no final do primeiro tempo, quando defendeu uma sequência de chutes de dentro da pequena área, primeiro de Estevão e depois de Maurício. Um zagueiro do Porto ainda salvou em cima da linha após chute de Richard Ríos. Uma verdadeira blitz alviverde. Mas o clube português conseguiu segurar o empate até o final do jogo.
O segundo jogo da campanha foi contra o egípcio Al-Ahly. O Palmeiras levou a vitória por 2 a 0, após uma interrupção de 48 minutos por “alerta de tempestade”. Um dos destaques esquisitos do Mundial nos Estados Unidos tem sido uma série de interrupções em partidas pelo tal risco de tempestades. Algo que acende um sinal de alerta sobre como esse recurso poderá ser utilizado na Copa do Mundo de 2026, que apesar de envolver também México e Canadá, terá a maioria dos jogos sendo disputada nos Estados Unidos. Outra interrupção implementada são as pausas para hidratação devido ao calor em alguns estádios por ser verão no Hemisfério norte.
Logo no começo do segundo tempo, após cobrança de falta palmeirense, o atacante palestino Abou Ali acabou marcando contra o próprio gol. O alviverde seguiu pressionando e ampliou com Flaco López aos 13 minutos. O jogo foi então interrompido, mas manteve a disputa igual no retorno, com o Palmeiras desperdiçando mais algumas chances de ampliar até o final do jogo. Na terceira rodada, enfrentou o Inter Miami dos veteranos Messi e Luís Soares. Nesse jogo, o Palmeiras gastou sua cota de erros da competição. Aos 15 minutos de jogo, o ponta Allende teve todo o campo de ataque livre para avançar e finalizar sozinho com o goleiro Weverton. Pressionando o jogo todo, os palmeirenses falhavam no toque final. Para aumentar o drama, Soares teve um lampejo do seu futebol dos bons tempos, fez fila e marcou um belo gol. A reação alviverde só aconteceu nos 10 minutos finais de jogo, com gols de Paulinho e Maurício para empatar o jogo.
Botafogo
A Estrela Solitária representou o Brasil no Grupo B, chamado pela imprensa de “grupo da morte”. Apesar de um começo pouco inspirado contra o saco de pancadas do grupo, o Seattle Sounders, conseguiu uma vitória por 2 a 1, fazendo os dois gols de cabeça ainda no primeiro tempo com o zagueiro Jair e o atacante Igor Jesus. Um jogo onde o Botafogo flertou com a tragédia que seria desperdiçar os três pontos. Já na segunda rodada, uma partida que contrariou muito as expectativas da imprensa esportiva. O Glorioso enfrentaria o bilionário PSG, que conquistou neste ano o inédito título da Liga dos Campeões da Europa e havia goleado o Atlético de Madrid por 4 x 0 na rodada inicial do mundial. Para desespero dos puxa-sacos de europeu, o campeão da Libertadores bateu o campeão da Liga dos Campeões, marcando a primeira vitória de um clube sul-americano contra um europeu num Mundial de Clubes desde a vitória do Corinthians contra o Chelsea em 2012. Quer dizer, um feito histórico, no qual, apesar do esquema conservador organizado pelo treinador português Renato Paiva, o campeão da América venceu o campeão da Europa. Até o fechamento desta edição, o Botafogo fora não apenas o único clube a vencer o PSG, como o único a não tomar gols do time, que goleou não somente o Atlético, como o Real Madrid (4 x 0), o Inter de Miami (4 x 0) e ainda venceu o Bayern de Munique com dois jogadores a menos por 2 x 0.
Jogando no contra-ataque, o Botafogo teve a paciência para achar uma bola enfiada para o artilheiro Igor Jesus, que driblou os zagueiros Pacho e Beraldo e marcou o único gol do jogo aos 35 minutos do primeiro tempo. O goleiro John fechou o gol quando o PSG conseguiu chegar com perigo. Interessante notar que, mesmo detendo a posse de bola (75%), o time francês não foi capaz de furar a defesa alvinegra, acertando apenas dois chutes em direção ao gol durante todo o jogo. O Botafogo (com 25% de posse de bola), por sua vez, acertou quatro. O Fogão interrompeu uma sequência de 19 partidas marcando gols dos franceses. Na coletiva de imprensa após o jogo, o treinador do PSG, o espanhol Luís Henrique, declarou:
“Acredito que o Botafogo é o time que melhor se defendeu contra nós em toda a temporada, tanto na liga quanto na Champions. Foram eficientes e solidários, jogaram muito bem. Não nos esperaram em bloco baixo desde o princípio, tiveram a oportunidade de fazer transições e marcaram um gol em uma grande ação de Igor Jesus, que deu a eles muita moral”.
Na rodada final, o time fez partida pouco inspirada e, após desperdiçar chances claras e algumas boas defesas do goleiro adversário, cedeu o resultado aos 41 do segundo tempo, quando o francês Griezmann recebeu a bola sozinho dentro da área e fez o único gol da partida. O resultado tirou a liderança do grupo do Glorioso, formando um triplo empate por pontos com PSG e o próprio Atlético de Madrid. O critério de desempate estabelecido para o mundial previa o maior saldo de gols entre os envolvidos no empate. Dessa forma, o Atlético de Madrid pagou pela goleada sofrida na estreia, sendo eliminado.
Flamengo
O Flamengo estreou no Grupo D contra o tunisiano Espérance num jogo tranquilo. Abrindo o placar aos 16 minutos com o meia Arrascaeta, o Flamengo não gastou suas fichas contra o time africano e administrou com calma o jogo. Justamente quando o Espérance veio para cima no segundo tempo, o time do jovem treinador Filipe Luís ampliou. Aos 24 minutos, Luiz Araújo chutou com categoria para fechar o placar para o rubro-negro. No entanto, o jogo mais esperado da fase de grupos era contra o Chelsea; e o Flamengo botou os ingleses no bolso mesmo começando o jogo com uma falha bisonha no meio de campo aos 12 minutos: Wesley e Pulgar se atrapalharam e a bola sobrou limpa para o ponta Pedro Neto, que avançou sozinho e marcou o primeiro gol do jogo. Gerson quase empatou aos 42, mas o zagueiro Colwill salvou o time inglês e adiou a recuperação rubro-negra.
No segundo tempo, o que se viu foi o jogo de um time só. Uma verdadeira blitz do Flamengo, que culminou no gol de Bruno Henrique aos 16 minutos. Apenas três minutos depois, Bruno Henrique escorou de cabeça e o zagueiro Danilo se esticou para ampliar. Aos 22 minutos, o atacante Nicolas Jackson perdeu a cabeça, sendo expulso: com somente quatro minutos em campo, entrou com as travas da chuteira na canela do lateral Ayrton Lucas. Expulsão que facilitou ainda mais a vida do Flamengo, que seguiu trocando passes e criando chances de gol. Aos 37, após bela troca de passes, a bola acabou sobrando meio sem querer para o jovem atacante Wallace Yan, que tocou para as redes com tranquilidade de veterano.
Outro elenco bilionário caía diante de um brasileiro. Triunfo que repercutiu muito na imprensa europeia, especialmente por ser o segundo caso em dois dias. Assim como na imprensa burguesa brasileira, a expectativa europeia era passar sem dificuldades pelos “primos pobres”. O jornal inglês The Sun estampou a manchete “Mundo de dor: Azuis [Chelsea] sofrem colapso ridículo no segundo tempo” e associou a derrota à expulsão de Jackson. O espanhol Marca destacou que o rubro-negro foi superior “durante toda a partida” em matéria intitulada Outra lição do futebol brasileiro ao europeu.
Já classificado, o Flamengo escalou um time misto para a última rodada contra o Los Angeles FC. Um festival de bolas na trave, mas o placar só saiu do zero aos 38 do segundo tempo, após um cochilo da zaga flamenguista, que deixou o ponta Denis Bouanga sozinho contra o goleiro Rossi. O gol serviu para acordar o Flamengo e Wallace Yan recebeu, driblou um marcador e tocou com categoria para empatar o jogo. O volante Allan quase decretou a vitória rubro-negra, mas seu chute saiu rente à trave. Fim da partida: 1 x 1, e Flamengo classificado em primeiro do grupo.
Fluminense
O Tricolor das Laranjeiras estreou contra o Borussia Dortmund e, apesar do placar zerado, dominou o time alemão, com destaque para a atuação do colombiano Jhon Arias. Aos 12 do segundo tempo, o atacante Everaldo recebeu belo lançamento de Arias, mas desperdiçou a chance de chutar sozinho contra o goleiro Kobel, tocando mal para Canobbio, num lance que poderia definir a partida. O desperdício de oportunidades quase foi fatal para o Fluminense, que conseguiu parar o time alemão na sua tentativa de pressão no final do jogo. O treinador Renato Gaúcho apostou numa postura ofensiva e quase conquistou a terceira vitória brasileira contra um europeu nessa primeira fase (seria, então, a primeira, por ocorrer antes de Botafogo x PSG).
Foi a vez então de pegar o saco de pancadas do Grupo F, o Ulsan Hyundai. Logo aos 26 minutos de jogo, Arias cobrou falta com categoria para abrir o placar para o Flu. Aos 37, a zaga tricolor vacilou e a bola sobrou livre, sem goleiro, para Jin-hyun empatar. Já nos acréscimos, outro vacilo e o atacante Wong-sang cabeceou sozinho, sem chances de defesa para o goleiro Fábio. O susto serviu para acordar o Fluminense para o segundo tempo, que voltou mais ligado para o jogo. Keno e Nonato, que entraram aos 14 minutos do segundo tempo, participaram da jogada que culminou no gol de empate em chute de Nonato aos 21 minutos. O zagueiro Freytes finalizou da entrada da pequena área para colocar o Fluminense novamente na frente aos 37. Nos acréscimos, Keno fechou a fatura e garantiu a tranquilidade ao tricolor.
Dependendo de um empate contra o Mamelodi Sundowns para avançar às oitavas, o Fluminense começou mal e até os oito minutos do primeiro tempo, Fábio já havia feito duas grandes defesas. O tricolor partiu para cima e acumulou chances de gol perdidas, incluindo uma bola na trave de Cano aos 12 do segundo tempo. Como quem precisava correr atrás do resultado era o time sul-africano, o Fluminense se contentou em administrar o jogo, sem sofrer sustos no final do jogo. Com a campanha, o Fluminense garantiu a classificação.
Balanço da Fase de Grupos
Enquanto isso, ambos os argentinos, Boca Juniors e River Plate, foram eliminados na 3ª colocação dos grupos C e E, respectivamente. A Fase de Grupos mostrou, assim, não a qualidade do futebol sul-americano em geral, mas do futebol brasileiro. Por outro lado, o que se viu foi uma “choradeira” dos clubes europeus, reclamando do clima, de estarem em fim de temporada, desconsiderando, por exemplo, que os quatro times que chegaram com mais partidas disputadas nos últimos doze meses eram os quatro brasileiros. As desculpas esfarrapadas chegaram ao ponto do técnico do Real Madrid, Xabi Alonso, alegar que Vinícius Júnior, craque do time merengue, um negro nascido em São Gonçalo no Rio de Janeiro, estaria tendo dificuldades por conta do calor.
Assim, a Fase de Grupos serviu para expor a propaganda pró-imperialista no futebol, segundo a qual os clubes da Europa estariam em uma prateleira muito acima à dos clubes brasileiros… Ao contrário, enquanto todos os brasileiros se classificaram, alguns europeus foram eliminados já nessa fase. Não somente do Atlético de Madrid e o RB Salzburg, que estavam em grupos difíceis — contra PSG e Botafogo e contra Real Madrid e Al-Hilal — mas também o Porto, que perdeu a vaga após ser derrotado pelo Inter de Miami, time de amigos semi-aposentados do Messi e que foi convidado pela FIFA para participar do Mundial.
Além disso, os poderosíssimos europeus tiveram resultados ruins contra times com muito menos poder financeiro: o Benfica empatou com o Boca Júniors em 2 x 2, tendo de buscar o empate após um início arrasador do clube argentino; a Internazionale empatou por 1 x 1 com o mexicano Monterrey; e o Real Madrid empatou com o Al-Hilal em 1 x 1, mesmo com ajuda da arbitragem.
As oitavas de final
Infelizmente, por conta do chaveamento, as oitavas já começaram com um confronto entre brasileiros. O Botafogo entrou em campo com uma postura conservadora e sofreu pressão durante a maioria do jogo do Palmeiras, que, também com um técnico português, não apresentava um bom futebol. Conforme o tempo avançava, aumentava a pressão alviverde. Mesmo assim, a partida terminou o tempo normal em 0 a 0. Somente aos nove minutos do primeiro tempo da prorrogação, Paulinho abriu o placar para o Palmeiras, batendo com categoria após bela jogada individual. O Botafogo partiu para o ataque e quase empatou nos acréscimos do segundo tempo da prorrogação. Revivendo a disputa entre campeão e vice-campeão do Brasileirão de 2024, dessa vez o Palmeiras foi superior e avançou às quartas de final.
O Flamengo enfrentou o Bayern de Munique demonstrando nervosismo e cometendo uma série de erros infantis contra um dos elencos mais caros do mundo. Logo aos quatro minutos de jogo, o goleiro Rossi carimbou o volante Pulgar e quase sofreu o primeiro gol. Na sequência, em cobrança de escanteio, aos cinco minutos, Pulgar cabeceou contra e encobriu Rossi: gol contra. Um péssimo começo de jogo, que ainda iria piorar. Aos nove minutos, Arrascaeta cochilou na intermediária e perdeu a bola, que sobrou para Harry Kane bater com espaço da entrada da área. A bola ainda desviou, saindo do alcance do goleiro rubro-negro: 2 x 0. Aos 14, o Flamengo quase diminui com Luiz Araújo, mas o goleiro Neuer defendeu o chute à queima-roupa. O Flamengo passou a controlar o jogo e finalmente marcou aos 32 do primeiro tempo, numa bola que sobrou para o meia Gerson, que afundou o pé, sem dó, deixando o goleiro alemão sem tempo de reação. Estava armada a reação rubro-negra, um gol moralizante. Mas outra falha de marcação interrompeu a reação do Flamengo. O volante Goretzka teve todo o tempo do mundo para armar seu chute de fora da área, sem qualquer pressão e colocou a bola no contrapé do goleiro Rossi.
Um final de primeiro tempo frustrante para o Flamengo, mas com o jogo ainda aberto. Aos sete minutos do segundo tempo, o meia Olise bloqueou a bola com a mão dentro da própria área. Pênalti convertido por Jorginho, dando esperanças de recuperação no jogo. Mas aos 27, outra presepada: Luiz Araújo resolveu sair driblando na defesa, cercado por quatro adversários, perdeu a bola e armou um contra-ataque na entrada da área rubro-negra. Kane recebeu livre e fez o quarto gol do Bayern. Erros que não se pode cometer num mata-mata. O jogo mostrou, claramente, como o nervosismo (criado, inclusive, pela própria desvalorização do nosso futebol pela campanha pró-imperialista) atua psicologicamente para prejudicar a atuação dos clubes brasileiros.
O Fluminense, porém, salvou a rodada ao derrotar a Inter de Milão, atual vice-campeão europeu, por 2 x 0. O time de Renato Gaúcho abriu o placar logo aos três minutos de jogo com o artilheiro Cano, que, oportunista, encontrou uma bola desviada bem na frente do goleiro e cabeceou por entre suas pernas. Fábio fez bela defesa aos 10 minutos para conter a reação italiana. Aos 29, Samuel Xavier perdeu um gol feito em rebote do goleiro Sommer, chutando para fora. Já no segundo tempo, Jhon Arias obrigou Sommer a fazer uma bela defesa para impedir mais um gol tricolor. Aos 34 minutos, a bola sobrou de presente para o argentino Lautaro Martinez empatar o jogo, mas o chute fraco foi defendido por Fábio. Aos 81, o Inter de Milão atacou com o ponta brasileiro Luis Henrique, que deu mais uma chance para Lautaro, dessa vez parando na trave. Já nos acréscimos, o volante Hércules acabou com o sofrimento tricolor, avançou e chutou fraco, mas fora do alcance de Sommer. Dimarco ainda conseguiu carimbar o travessão de Fábio, mas não havia mais tempo para o Inter correr atrás do empate.
Fluminense classificado e, ao estilo do seu treinador, um dos melhores técnicos do mundo, com coragem, indo para cima da defesa europeia, sem medo de jogar bola, um belo espetáculo.
Também nas oitavas, o elenco bilionário do Manchester City foi eliminado pelo saudita Al-Hilal, em um jogo emocionante. Ainda no início da partida, o clube inglês abriu o placar com o português Bernardo Silva. O brasileiro Marcos Leonardo, menino da Vila Belmiro, empatou no início do segundo tempo. 10 minutos depois, o também brasileiro Malcom, cria do terrão corintiano, virou o placar, para logo em seguida, o norueguês Haaland empatar novamente: 2 x 2. A partida foi para a prorrogação. O zagueiro senegalês, nascido na França, Kalidou Koulibaly colocou o time saudita novamente à frente do placar, mas ainda no final da primeira etapa, o inglês Phil Foden empatou novamente. No segundo tempo, faltando cinco minutos para acabar a partida, Marcos Leonardo brilhou novamente e fechou o placar: 4 x 3, e o elenco bilionário de Manchester deu adeus ao Mundial.
Quartas de final
Palmeiras e Chelsea se enfrentaram pelas quartas de final do Mundial de Clubes, no Lincoln Financial Field, na Filadélfia. O confronto, que terminou com a vitória do Chelsea por 2 a 1, foi marcado por momentos de tensão, brilho individual e uma eliminação dolorosa para o time brasileiro. O Chelsea dominou as ações em quase toda a partida, inclusive pelo fato do grande forte do time alviverde, sua intensa marcação defensiva, estar desfalcado: no lado direito, Vanderlan e Micael substituíram os suspensos Piquerez e Gustavo Gómez. E foi por esse lado que o clube inglês explorou suas ações ofensivas. Aos 16 minutos do primeiro tempo, Cole Palmer abriu o placar para os ingleses, aproveitando um espaço deixado pela zaga alviverde.
O Palmeiras, que teve um primeiro tempo apático, com apenas duas finalizações e dificuldades para organizar o ataque, voltou transformado para a segunda etapa. A estrela de Estêvão, jovem prodígio do time, brilhou intensamente aos 7 minutos. Após receber um cruzamento rasteiro de Richard Ríos, ele se antecipou à marcação de Colwill e, mesmo sem ângulo, acertou um chute poderoso que explodiu no travessão antes de entrar, empatando o jogo em 1 a 1. O golaço reacendeu as esperanças da torcida palmeirense, que dominava as arquibancadas.
O segundo tempo foi mais equilibrado, com o Palmeiras mostrando coragem e criando chances para virar o jogo. A entrada de Paulinho e Maurício deu mais volume ofensivo, e o time chegou perto do gol em um chute cruzado de Paulinho, que passou rente à trave. Contudo, aos 37 minutos, veio o golpe fatal. Um cruzamento de Malo Gusto desviou em Giay, enganando o goleiro Weverton, que falhou no lance: 2 x 1 e Palmeiras eliminado. Dessa forma, o clube paulista foi o único que não venceu nenhum clube europeu durante a competição.
Vale destacar, no entanto, que, assim como o Botafogo do português Renato Paiva (demitido após a derrota contra o Palmeiras), o clube paulistano, sob o comando do português Abel Ferreira, adotou uma postura excessivamente cautelosa durante o Mundial de Clubes. A falta de ousadia e a dificuldade em propor jogo foram evidentes, inclusive em jogos mais fáceis. Com exceção da partida contra o Porto, o time dependeu quase exclusivamente de jogadas individuais, como as de Estêvão, para criar perigo. Ao longo da competição, o Palmeiras não apresentou um futebol convincente. Mesmo com a invencibilidade na fase de grupos e a vitória na prorrogação contra o Botafogo nas oitavas, mostrando seu caráter copeiro e resiliente que expressam as características do time vencedor dos últimos anos, o time de Abel Ferreira não demonstrou a qualidade esperada para o clube brasileiro com o elenco mais caro.
Apesar disso, o confronto revela justamente o problema dos clubes brasileiros atualmente. Estêvão, aos 18 anos, foi o grande destaque do Palmeiras no jogo e na competição. Com técnica apurada, ousadia e capacidade de decisão, o jovem atacante mostrou por que é uma joia rara do futebol brasileiro. Seu gol contra o Chelsea, um chute improvável que venceu o goleiro Robert Sánchez, foi a prova de seu talento excepcional. Eleito o melhor em campo, Estêvão, enfim, se despediu do Palmeiras com 83 jogos e 27 gols.
Foi transferido justamente para o Chelsea! A transferência foi oficializada em junho de 2024, quando o menino ainda nem era maior de idade, por 61,5 milhões de euros (cerca de R$ 358 milhões). É um reflexo da espoliação que o futebol brasileiro sofre. Clubes europeus, com poderio financeiro muito superior, levam os maiores talentos sul-americanos antes que eles alcancem seu auge no Brasil.
Por outro lado, o Fluminense venceu o Al-Hilal por 2 a 1, e se classificou para a semifinal do Mundial de Clubes. O jogo começou truncado, com ambos os times se estudando. Entretanto, o placar foi aberto aos 39 minutos do primeiro tempo, em um momento de brilho individual. Gabriel Fuentes aproveitou uma falha de João Cancelo na área e tocou para Matheus Martinelli, que girou sobre Milinkovic-Savic e acertou um chute preciso no ângulo esquerdo de Bono, um golaço que incendiou a torcida tricolor. A vantagem de 1 a 0 refletiu a maior organização do Fluminense na etapa inicial.
Nos acréscimos do primeiro tempo, o Al-Hilal quase empatou. Após uma cobrança de escanteio de Rúben Neves, Kalidou Koulibaly cabeceou com perigo, mas Fábio, aos 44 anos, fez uma defesa espetacular, espalmando a bola para fora e garantindo a liderança do Flu ao intervalo.
O segundo tempo começou com o Al-Hilal mais agressivo. Aos 5 minutos, após um escanteio e uma série de rebotes, Marcos Leonardo, ex-Santos, aproveitou uma sobra na área e cabeceou para empatar por 1 a 1. O gol deu ânimo aos sauditas, que pressionaram com jogadas pelos lados, lideradas pelos também brasileiros Malcom e Renan Lodi.
Renato Gaúcho surpreendeu ao substituir Martinelli por Hércules no intervalo, reforçando o meio-campo. A aposta deu certo: aos 24 minutos, Hércules, que já havia marcado contra o Inter de Milão nas oitavas, recebeu na entrada da área, teve o primeiro chute bloqueado, mas no rebote acertou um disparo cruzado que venceu Bono, garantindo o 2 a 1. O gol reacendeu o Fluminense, que passou a controlar o jogo com inteligência.
Nos minutos finais, o Al-Hilal partiu para o tudo ou nada, com três escanteios consecutivos e pressão constante. A defesa tricolor, liderada por Thiago Silva, de 40 anos, e Fábio, mostrou experiência e firmeza. Um corte providencial de Juan Freytes no segundo palo, aos 45’+7, evitou o empate, e Fábio segurou as investidas finais, garantindo a vitória.
O Fluminense, que vinha de uma vitória surpreendente por 2 a 0 sobre a Inter de Milão nas oitavas, consolidou sua campanha histórica com essa vitória. O time carioca, mesmo sem o elenco mais estrelado entre os brasileiros, demonstrou estratégia e resiliência, como destacou Renato Gaúcho: “O futebol se decide em campo, não no orçamento.”
Semifinal
Dessa forma, o Fluminense representou o Brasil na semifinal da Copa do Mundo de Clubes. O Flu enfrentou o Chelsea, no MetLife Stadium, em Nova Jersey, em um confronto que terminou com a vitória do Chelsea por 2 a 0. O jogo foi decidido por dois golaços do brasileiro João Pedro, cria da base do Fluminense em Xerém (RJ), que não comemorou seus tentos contra o clube que o formou. A derrota tricolor, apesar da campanha heroica, escancarou mais uma vez a espoliação do futebol brasileiro pelos clubes bilionários europeus.
Após o fim da partida, o político nacionalista Aldo Rebelo denunciou esse fato em sua rede social. Na sequência da vitória do Botafogo sobre o PSG, ele já havia comentado: “Deu a lógica. História e camisa do Botafogo não tem comparação com o PSG. Só a mídia vira-lata não viu” (X, 20/6/2025). Depois da derrota do Fluminense, ele ironizou:
“Placar moral do jogo: Fluminense 2×0 Fluminense. Dois de cria do Fluminense. Futebol europeu é narrativa de jornalista vira-lata. Tira os brasileiros e os argentinos do time europeu e veja o que sobra. O Cristiano Ronaldo, que é da Ilha da Madeira” (X, 8/7/2025).
O Chelsea é treinado por Enzo Maresca, que, antes da partida, já “justificava” caso fosse derrotado, alegando que o Chelsea havia chegado a mais de 60 partidas disputadas em um ano — detalhe, ainda, com as pouquíssimas distâncias de viagem exigidas pelo futebol europeu. Ele, todavia, foi questionado por um jornalista que lembrou ter o Fluminense disputado quase 80 partidas. Vale lembrar: percorrendo, toda a semana, as longas distâncias do Brasil e do subcontinente Sul-Americano.
Aos 18 minutos, João Pedro abriu o placar. Após um cruzamento de Pedro Neto, Thiago Silva falhou ao tentar afastar, e a bola sobrou para João Pedro, que, com dois toques rápidos, acertou um chute colocado no ângulo de Fábio, silenciando a torcida tricolor presente em peso no estádio. O atacante, respeitoso, apenas ergueu as mãos em sinal de desculpas.
O Fluminense tentou reagir e teve dois momentos cruciais no primeiro tempo. Aos 26 minutos, Hércules, após uma tabela com Germán Cano, finalizou superando Robert Sánchez, mas Marc Cucurella salvou em cima da linha, evitando o empate. Dez minutos depois, aos 36, o árbitro François Letexier marcou um pênalti nítido para o Fluminense por toque de mão de Trevoh Chalobah, mas o VAR apareceu para favorecer o clube europeu e a decisão foi anulada, mudando completamente o restante da partida, suspendendo uma possibilidade clara do Fluminense de equilibrar o jogo.
No segundo tempo, aos 11 minutos, João Pedro selou a vitória do Chelsea. Após um passe preciso do argentino Enzo Fernández, ele driblou Ignácio, cortou para o meio e disparou um chute potente que acertou o travessão antes de entrar, novamente sem comemoração. O gol desanimou o Fluminense, que, apesar de algumas finalizações, como um chute de Everaldo defendido por Sánchez, não conseguiu furar a sólida defesa inglesa.
A vitória do Chelsea, impulsionada pelos dois gols de João Pedro, demonstra a política de espoliação do futebol brasileiro. Formado na base do Fluminense, em Xerém, João Pedro estreou profissionalmente em 2019, aos 17 anos, marcando 10 gols em 37 jogos. Sua venda para o Watford (um time de terceiro escalão da Inglaterra), em 2020, por US$ 10 milhões, seguida por sua transferência para o Brighton e, neste ano de 2025, para o Chelsea, por cerca de US$ 75 milhões (R$ 370 milhões), exemplifica como os clubes europeus (mesmo os irrelevantes), com seu poder financeiro, absorvem os maiores talentos brasileiros antes que eles atinjam seu auge no País.
A saída de João Pedro, assim como a de Estêvão, do Palmeiras, para o Chelsea, e a de Igor Jesus e Jair, do Botafogo, para o Nottingham Forest evidencia o abismo econômico entre os clubes sul-americanos e europeus, uma questão que enfraquece a competitividade do Brasil no cenário global. Essa disparidade financeira permite que clubes como o Chelsea invistam em elencos estelares, enquanto os brasileiros dependem de garra e da base para competir — além, é claro, sendo o Brasil e, em seguida, a América do Sul, um celeiro de craques, dos jogadores que retornam ao País ou, por motivos diversos, permanecem.
Conclusão e um breve balanço dos brasileiros
Primeiro, cabe exaltar o desempenho dos brasileiros fora de campo. As torcidas sul-americanas e especialmente as brasileiras mostraram ao mundo como diferem das europeias. Mesmo com o fator econômico a seu favor, os europeus não compareceram em peso ao Mundial. O contraste dessa ausência com a paixão que reverberou nos estádios chamou a atenção, sendo parte da expressão da nossa cultura no futebol. Uma cultura que ajudou a tornar o futebol o esporte mais popular do planeta.
Segundo, os clubes brasileiros, nesse formato, em que não chegam ao Mundial depois da temporada mais exaustiva do mundo no final do ano, tendem a ter mais espaço para mostrar futebol do que nos intercontinentais, onde os europeus caem de paraquedas na final.
Terceiro, ao contrário do que era apresentado pela imprensa imperialista e pró-imperialista, que acham que na Europa se pratica o melhor futebol do mundo, depois da série de resultados positivos contra clubes europeus de enorme poder econômico, ficou claro que esses times não são imbatíveis. Mesmo tirando nossos craques, seguimos produzindo os melhores jogadores de futebol do mundo. Mesmo com a disparidade nas condições econômicas, o futebol se decide dentro de campo.
Clubes bilionários, como Bayern de Munique, Manchester City, Real Madrid, PSG, e outros alguns, disputariam, sem dúvida, na primeira metade da tabela do Campeonato Brasileiro, mas não seriam campeões “com sobras”, como apresentavam os porta-vozes do futebol europeu. Na verdade, o Mundial foi uma vergonha para os clubes europeus, que, mesmo com uma condição financeira infinitamente superior, não conseguiu impor uma dominação proporcional ao seu alcance financeiro.
Botafogo e Flamengo, mesmo sendo eliminados (sendo o futebol imprevisível), derrotaram os atuais finalistas da Copa do Mundo de Clubes, PSG (campeão europeu) e Chelsea (campeão do torneio continental Conference League), respectivamente. Palmeiras fez atuações abaixo, mas, com sua resiliência, conseguiu eliminar o Botafogo, atual campeão brasileiro e da América. E o Fluminense, provavelmente o brasileiro que chegou mais desacreditado na competição, fez a terceira melhor campanha do Mundial, com a coragem de Renato e de seu Time de Guerreiros.
Dessa forma, temos, por um lado, a vergonha dos clubes europeus, e a glória dos clubes brasileiros. Para confirmar a superioridade do futebol brasileiro, até o fechamento desta edição (ou seja, antes da final entre Chelsea e PSG no dia 13 de julho), o Brasil era a nacionalidade que mais marcou gols na Copa do Mundo de Clubes.
Os brasileiros fizeram 30 gols, onze a mais do que o segundo colocado, também sul-americano, os argentinos, com 19. Em terceiro lugar, o país mais africano da Europa, a França, com 16 gols. Dados não resumem o futebol, muitas vezes deixam de lado a avaliação qualitativa. No entanto, mesmo eles confirmam: o Brasil ainda é o país do futebol.