O que está por trás da defesa do meio ambiente?

Transição energética

Fábio Picchi

Demagogia e previsões apocalípticas ocultam os interesses econômicos daqueles que controlam – e pretendem continuar controlando – a economia mundial

Num mundo cada vez mais polarizado, onde uma guerra por procuração entre OTAN e Rússia alastra-se por quase um ano e meio no Leste europeu, é difícil encontrar consensos, até mesmo entre os próprios países imperialistas. Um tópico, porém, emerge desse cenário cada vez mais caótico, como um ponto de acordo: a necessidade de combater as “mudanças climáticas”. Mais especificamente, a transição energética – da matriz atual, baseada essencialmente em combustíveis fósseis, para uma baseada em fontes renováveis e menos poluentes – aparece com grande destaque nos planos de governo de praticamente todos os países, até mesmo dos principais exportadores de petróleo, como a Arábia Saudita.

“Alcançar um futuro verde é um imperativo global. A Arábia Saudita aspira melhorar a qualidade de vida e proteger as gerações futuras dentro e fora de suas fronteiras. Trabalhando em direção a esse objetivo, o Reino está reunindo ministérios do governo, entidades do setor privado e líderes estrangeiros sob iniciativas verdes duplas, para identificar e aproveitar oportunidades para escalar rapidamente a ação climática,” diz o portal do governo saudita voltado a “iniciativas verdes” (Saudi & Middle East Green Initiatives, consultado em 2/8/2023).

Apesar das inúmeras sanções comerciais impostas pelos Estados Unidos à China, ambos os países prometem cooperar no que diz respeito à transição energética. Em visita oficial à China, o emissário norte-americano para o clima, John Kerry, encontrou-se com o vice-presidente chinês Han Zheng, que reforçou que a mudança climática é “um aspecto importante da cooperação” entre ambos os países (China says it will work with US on climate change as long as political conditions are met, AP News, 19/7/2023).

Até mesmo o presidente russo, Vladimir Putin, que em 2017 fez pouco da tese de que a humanidade seria responsável por mudanças climáticas em escala global, reverteu seu posicionamento em 2021 ao se endereçar aos demais chefes de Estado em reunião do G20, em Roma. Na ocasião, Putin indicou que a temperatura média anual na Rússia crescia duas vezes e meia mais rápido que no resto do mundo (Putin reveals how hard climate change hit Russia, RT, 1/11/2021).

Mas esse entendimento comum, até mesmo entre países que literalmente enfrentam-se numa guerra, não se reverte numa ação conjunta. A velocidade e a qualidade das mudanças é foco de constantes atritos. Ainda em sua visita à China, por exemplo, Kerry reforçou que o país asiático deve abandonar o uso de carvão na geração de energia. Apesar de suas ambições verdes e do gigantesco investimento em fontes renováveis de energia, o rápido crescimento da economia chinesa ainda se apoia na criação de usinas termoelétricas, o que torna a China o maior emissor de gases de efeito estufa do mundo (EU climate chief is concerned over the expansion of the coal industry in China, AP News, 3/7/2023).

Duplo padrão

Os critérios aplicados pelos norte-americanos aos chineses – e demais países –, porém, não parecem ser aplicados em casa. O carvão deixou de ser a principal fonte de energia elétrica da economia mais rica do mundo apenas em 2015, quando o mineral foi ultrapassado pelo uso de gás natural, outra fonte não renovável de energia. 

Além do que, se 26,1% das emissões de gases de efeito estufa são chinesas, 12,8% são norte-americanas. Dado que a população do país asiático é mais do que quatro vezes maior que a dos Estados Unidos, há um abismo entre as emissões per capita de ambos os países. Soma-se à cobrança hipócrita de Kerry a curva ascendente de consumo de petróleo dos Estados Unidos, que cresce sistematicamente desde o início da década passada. Este ano, o país produziu em média 12,56 milhões de barris de petróleo cru por dia e consumiu cerca de 20,44, aproximando-se do ponto máximo de 20,53 em 2005, fazendo da economia norte-americana a maior produtora e consumidora do combustível fóssil (SHORT-TERM ENERGY OUTLOOK, U.S. Energy Information Administration, relatório de 11/7/2023). 

Os dados deixam claro que não há esforço além do discurso para efetivamente realizar a transição energética, apesar de todos os acordos multilaterais para lidar com as mudanças climáticas. O duplo padrão não para por aí. Em 2012, uma pesquisa realizada pela Universidade de Michigan em parceria com pesquisadores chineses apontou que 14,6% das emissões de gases de efeito estufa na China estavam diretamente relacionadas à fabricação de produtos para exportação. Os Estados Unidos apareciam em primeiro lugar na lista dos países aos quais as mercadorias eram destinadas, abocanhando 23% da produção exportadora chinesa (Carbon footprint hotspots: Mapping China’s export-driven emissions, Michigan News, 7/5/2020).

Líderes de países de capitalismo atrasado já estão cientes da manobra que serve apenas para sabotar seu desenvolvimento já muito prejudicado. O presidente brasileiro, Luís Inácio Lula da Silva, em recente viagem à Europa, declarou a uma grande audiência em Paris: “não é o povo africano que polui o mundo, não é o povo latino-americano que polui o mundo. Na verdade, quem poluiu o planeta nos últimos 200 anos foram aqueles que fizeram a Revolução Industrial. E, por isso, têm que pagar a dívida histórica que têm com o planeta Terra” (Lula diz que países ricos têm que financiar proteção das florestas, Agência Brasil, 22/6/2023).

No caso brasileiro não há muito como criticar a matriz energética, que se apoia majoritariamente sobre hidrelétricas, mas há grande pressão para que o País preserve suas florestas praticamente em seu estado natural. Lula propõe que esses países, que em grande medida já destruíram boa parte de suas florestas, financiem o desenvolvimento brasileiro, já que buscam que a Amazônia, a qual representa cerca de um terço do território nacional, permaneça intocada.

Estivessem efetivamente empenhados em realizar seu discurso, os países imperialistas não apenas financiariam a preservação da Amazônia, como compartilhariam as tecnologias necessárias para a geração e armazenamento de energia “limpa” com países como Brasil, Índia e Indonésia. Esses avanços tecnológicos, porém, são protegidos por patentes, assim como as vacinas contra a covid-19.

Resta à Índia, que recentemente descobriu reservas de lítio em seu território, “tornar-se parte da cadeia produtiva de energia renovável que estende dos Estados Unidos à União Europeia e da Austrália ao Japão”. Assim, o país onde cada habitante gasta um terço da média mundial do consumo de energia elétrica per capita poderia fabricar células de painel solar, cátodos de bateria e componentes de turbina eólica (Can India Become a Green Superpower?, Foreign Policy, julho/agosto 2023). A fabricação, naturalmente, serviria para suprir majoritariamente as economias imperialistas que buscam progressivamente desligar-se de seu principal fornecedor atualmente, a China.

Quem é mais ecológico?

O governo norte-americano poderia rebater as críticas alegando que os Estados Unidos são o país que mais investe na transição energética e estariam “certos” ao dizê-lo. Em agosto do ano passado, o presidente Joe Biden sancionou a Lei de Redução da Inflação (Inflation Reduction Act, em inglês), muito comparada ao New Deal de Franklin Delano Roosevelt, programa econômico protecionista de combate à crise econômica do início dos anos 1930, às vésperas da Segunda Guerra Mundial. O pacote orçamentário de Biden promete um total de US$ 370 bilhões em subsídios e isenção de impostos ao longo dos próximos dez anos para facilitar a transição energética norte-americana e atrair capital de volta ao país.

Mas no lugar de aplausos, o incentivo foi repudiado pelos demais países que até então pareciam estar de acordo sobre a necessidade urgente de uma transição energética. Nesse caso, o conflito não se deu entre países em desenvolvimento e países desenvolvidos, mas dentro do próprio bloco de países imperialistas.

A Comissão Europeia, que lida com questões de comércio internacional em nome dos 27 estados-membros da União Europeia, declarou que as medidas dos Estados Unidos incluem requisitos que discriminam empresas não norte-americanas, como a necessidade do uso de matéria-prima e produção locais. Declarações similares foram emitidas por autoridades japonesas que alegam que a legislação é “discriminatória” e faria com que montadoras como Toyota e Honda hesitassem em investir na transição energética norte-americana. 

“Especificamente, a lei oferece aos consumidores um crédito fiscal de US$ 7.500 para veículos elétricos, desde que 40% das matérias-primas em suas baterias sejam extraídas e processadas nos Estados Unidos ou em países que tenham um acordo de livre comércio com os Estados Unidos. Isso significa que os parceiros dos Estados Unidos – como Canadá e México – estão isentos das restrições de conteúdo da lei, enquanto outros fabricantes de automóveis estrangeiros não” (Why Biden’s Green Subsidies Have US Allies Fuming, The Washington Post, 30/1/2023). 

Os europeus responderam ao pacote de Biden com a Lei da Indústria Emissão Zero (Net-Zero Industry Act), que prevê o investimento de cerca de US$ 100 bilhões entre 2023 e 2030 em oito tecnologias consideradas estratégicas para redução e captura das emissões de gases de efeito estufa (European Net Zero Industry Act: an effective response to the US IRA?, portal Natixis, 24/4/2023). O governo japonês, por sua vez, também organizou seu próprio pacote de subsídios, intitulado Lei da Transformação Verde (Green Transformation Act), aprovado em maio deste ano, que prevê cerca de US$ 150 bilhões em investimentos governamentais ao longo dos próximos dez anos, financiados pela emissão de títulos de dívida do Banco Central Japonês.

Os subsídios não se limitam apenas à cadeia produtiva que sustenta a tão almejada transição energética. Cada vez mais, países imperialistas oferecem subsídios para que as grandes fabricantes de semicondutores tragam seu capital para seu território. No mesmo mês de agosto, em que sancionou a Lei de Redução da Inflação, Biden também aprovou a Lei de CHIPS e Ciência (CHIPS and Science Act) que prevê o investimento de US$ 52,7 bilhões no setor, desde pesquisa e desenvolvimento até a capacitação de trabalhadores para atuarem na indústria (FACT SHEET: CHIPS and Science Act Will Lower Costs, Create Jobs, Strengthen Supply Chains, and Counter China, portal da Casa Branca, 9/8/2022).

A medida também foi acompanhada de respostas por parte da União Europeia, que aprovou um orçamento de quase € 8 bilhões dedicado a incentivar a fabricação de semicondutores em solo europeu (Brussels approves €8 billion in new subsidies for Made In Europe semiconductors, Euronews, 8/6/2023). Esses incentivos somam-se aos esforços individuais de cada país europeu, como a Alemanha, que já entregou € 9,9 bilhões à norte-americana Intel para que a empresa construa uma fábrica de semicondutores no país.

Há países como a Índia que buscam “aproveitar” essa sanha industrialista das grandes potências para “desenvolver” sua própria indústria. É o caso do subsídio governamental oferecido à norte-americana Micron, que instalou uma fábrica de montagem e teste – em oposição à fabricação dos semicondutores, que países imperialistas buscam atrair para seu território – na região de Gujarat. A exploração da mão-de-obra barata local praticamente não necessitará de investimento por parte dos capitalistas norte-americanos, já que o custo da construção das instalações será de US$ 2,75 bilhões, dos quais o governo central cobrirá 50% e o governo regional cobrirá mais 20%. A fábrica ainda será de propriedade da multinacional norte-americana (India Will Pay 70% of Cost but Micron Will Own 100% of the Plant—A Curious Business Model, Counterpunch, 7/7/2023).

“Eles dizem que estão lutando contra as mudanças climáticas, melhorando a segurança nacional e corrigindo quatro décadas de globalização durante as quais os trabalhadores sofreram e o crescimento desacelerou,” diz editorial do semanário britânico The Economist, parcialmente crítico da política generalizada de subsídios. O artigo aponta um lado positivo dos incentivos, do ponto de vista de seus leitores bilionários: “esse oceano de dinheiro público deve acelerar a transição verde e remodelar as cadeias produtivas de modo a aumentar a segurança das democracias”, em oposição aos governos “autoritários” de Rússia e China. 

Ainda assim, adverte contra a repatriação imperialista de grande parte da cadeia produtiva global, em particular os setores de baixo valor agregado (Subsidies and protection for manufacturing will harm the world economy, The Economist, 13/7/2023). Não se trata de uma defesa ideológica de livre mercado, tema recorrente nas páginas da publicação. Subentende-se que esses empregos devem ser destinados à Índia ou a países do sudeste asiático, como Vietnã e Indonésia, onde a mão-de-obra barata pode substituir a parcela da cadeia produtiva hoje sediada na China sem grandes prejuízos.

A corrida entre países imperialistas para determinar quem seria o mais ecológico, ou quem defende mais empregos de qualidade no setor industrial, não passa de demagogia. Não se trata de uma inversão de décadas de política neoliberal de guerra contra a classe operária de seus próprios países. Os subsídios pretendem financiar o reestabelecimento de um firme controle imperialista sobre setores essenciais da economia global, sobretudo o setor de energia, no qual há grande concorrência de países hostis à dominação imperialista, como Rússia, Irã e Venezuela, no caso de combustíveis fósseis, e China, no caso da fabricação de componentes essenciais para a viabilização das fontes renováveis de energia.

A luta pelos combustíveis fósseis

Por trás da política de transição energética sempre esteve o controle cada vez mais frágil dos monopólios imperialistas sobre o mercado mundial de combustíveis fósseis. Em 1973, na ocasião da primeira grande crise do capitalismo após a Segunda Guerra Mundial, quando a Organização de Países Exportadores de Petróleo, liderada pela Arábia Saudita, impôs um embargo às exportações para os Estados Unidos, o preço internacional do barril de petróleo quadruplicou de US$ 3,00 para US$ 12,00 em poucos meses. Ao final da década de 1970, com a Revolução Iraniana em 1978, pagava-se US$ 32,00 pelo combustível que era a principal fonte de energia para as economias capitalistas desenvolvidas.

A crise foi o gatilho para uma transição energética própria da época que mirava uma tecnologia nova: a energia nuclear. Na França, o primeiro-ministro Pierre Messmer anunciou em março de 1974 um programa que levaria a energia nuclear a ser responsável por mais de 70% da produção de eletricidade francesa, segundo dados de 2018, segundo a Agência Internacional de Energia Atômica. No Japão e na Alemanha, a energia nuclear chegou a ser responsável por mais de 25% da matriz de ambos os países até o início dos anos 2000, quando retrocedeu face aos acidentes nucleares tanto na Europa, em Chernobyl, como no próprio Japão, em Fukushima.

Os Estados Unidos contornaram a crise estabelecendo um acordo de fornecimento de armas à Arábia Saudita, mantido até hoje, em troca do fim do embargo e do uso exclusivo do dólar como moeda utilizada na exportação de petróleo. O acordo deu origem ao termo “petrodólar” que daria a entender que a moeda norte-americana, agora não mais lastreada em ouro, teria seu valor garantido pelo petróleo saudita. 

Os norte-americanos também impulsionaram a construção de reatores nucleares, que hoje são responsáveis pela geração de cerca de 18% da energia elétrica do país. Ainda assim, as principais fontes de energia elétrica dos EUA são até hoje combustíveis fósseis: gás natural e carvão, responsáveis respectivamente por 39,8% e 19,5% da geração norte-americana (What is U.S. electricity generation by energy source?, U. S. Energy Information Administration, fevereiro de 2023). Esses dados, porém, não levam em consideração o elevado consumo de petróleo, do qual 67% é direcionado ao setor de transporte e 27% à indústria petroquímica.

Os dados demonstram que, apesar do enorme esforço desprendido por parte dos países imperialistas, o uso de combustíveis fósseis está longe de acabar. A crise do petróleo de 1973 estabeleceu um precedente: o controle desse mercado era fundamental para a estabilidade da ditadura imperialista sobre o mundo, o que está por trás da política agressiva no Oriente Médio, região em guerra permanente. Se a economia é a base da estrutura social e política, a geração de energia é a base da economia moderna.

A materialização dessa política, porém, apresenta muitas dificuldades. Se o avanço da energia nuclear era uma aparente solução, criou uma nova dependência dos países exportadores de urânio. Dentre eles, Canadá e Austrália são sócios minoritários do imperialismo, mas o maior exportador de urânio, o Cazaquistão, uma ex-república soviética, sofre forte influência russa e o Níger, ex-colônia francesa, é foco de constante instabilidade, como prova a recente insurreição, em julho deste ano, contra o governo pró-imperialista, em defesa da nacionalização dos recursos naturais nigerianos.

A Guerra do Golfo, no início dos anos 1990, foi sucedida pela Guerra do Iraque, na década seguinte, para que os grandes monopólios tirassem do caminho o governo nacionalista de Saddam Hussein e colocassem sob seu controle a exploração local de combustíveis fósseis. Porém, na virada do século, o chavismo chegou ao poder na Venezuela e Vladimir Putin tornou-se presidente da Rússia. Ambos atuaram para nacionalizar a indústria petrolífera de seus países. A guerra pelo ouro negro estende-se para os anos 2010, com a primavera árabe e o golpe de Estado contra a Líbia, país mais rico em petróleo da África, responsável por 2% da produção mundial à época (Oil Dependence and U.S. Foreign Policy, Council on Foreign Relations, 2022).

Emissões sem constrangimento

Durante o governo de Barack Obama, os Estados Unidos aceleram a produção de petróleo no país para combater não apenas a instabilidade no Oriente Médio, como a crescente influência russa no mercado que, sob Putin, chegou a ultrapassar a produção saudita de barris de petróleo entre 2009 e 2011 (Chart of the day: World’s Top Ten Oil Producing Countries 1965 to 2018, American Enterprise Institute, 11/6/2019).

Sob Obama, a produção norte-americana de petróleo cresceu 88%, de cerca de 5.100 barris de petróleo por dia para 9.200. Atingiu um pico de 13.000 em novembro de 2019, sob o mandato de Donald Trump e, segundo dados de maio deste ano, aproxima-se desse número com uma produção de 12.662 barris por dia, agora sob Biden. No mesmo período, as importações de petróleo caíram de 9.800 para 6.200 barris de petróleo entre 2008 e 2022 (Petroleum & Other Liquids, U. S. Energy Information Administration, consultado em 05/08/2023). Observa-se uma progressão similar tanto na exploração como no consumo norte-americano de gás natural. No mesmo período, cresceram, respectivamente, de 658 para 906 bilhões e de 722 bilhões para 1,22 trilhão de metros cúbicos (Natural Gas, U. S. Energy Information Administration, consultado em 5/8/2023).

O aumento no uso de combustíveis fósseis mostra um consenso entre os partidos Democrata e Republicano que não aparece em suas divergências no debate público sobre a transição energética e a defesa do meio ambiente. Torna-se mais gritante a hipocrisia democrata se levado em consideração que o crescimento na produção de combustíveis fósseis advém da exploração de xisto através do processo de fraturamento hidráulico (ou fracking, em inglês), que teve sua maior ascensão durante o governo de Obama. Se mudanças climáticas globais resultantes da atividade humana são foco de debate – ainda que ocultado pela imprensa – entre especialistas, os danos causados aos lençóis freáticos devido ao fraturamento hidráulico são visíveis imediatamente pelos habitantes de regiões próximas às reservas de xisto. 

Em 2019, em conferência econômica em Moscou, Putin declarou que “as tecnologias atuais de produção de petróleo de xisto e gás de xisto são, sem sombra de dúvidas, bárbaras”, reforçando que áreas afetadas pelo processo de extração são deixadas numa “situação precária”. O presidente russo declarou que apesar dos benefícios econômicos que seu país poderia obter através desses procedimentos, a Rússia “não os necessita e nunca os fará” (Russia’s Putin says shale oil technologies are ‘barbaric’, CNBS, 20/11/2019).

Se houvesse na Europa e no Japão os mesmos recursos naturais disponíveis na América do Norte, é certo que veríamos tendências similares às levadas adiante pelos Estados Unidos. Apesar da imensa propaganda em torno da preservação do meio ambiente e do uso de fontes renováveis de energia, apoiados por subsídios, não há sinais de refreamento da exploração de combustíveis fósseis. Se a produção de petróleo norueguesa, que deve crescer para “garantir a segurança energética da Europa”, é significativamente menor do que o patamar que estava no início do século, a produção de gás natural aproxima-se do pico atingido em 2017 (Norway expects jump in oil output and gas near record highs, Reuters, 9/1/2023).

Na Europa Ocidental, em particular a Alemanha, que abriga o maior parque industrial do velho continente, desde 2022 voltou a utilizar carvão e até mesmo madeira como combustível em usinas termoelétricas para economizar suas reservas de gás natural. Apesar de mais da metade da geração de eletricidade no país vir de fontes renováveis (turbinas eólicas, painéis solares e usinas hidrelétricas), o consumo geral de energia do país ainda depende em 75% de combustíveis fósseis (Germany – Country Commercial Guide, International Trade Administration, 4/8/2022). 

Mais de 98% do petróleo consumido na Alemanha é importado. A taxa de importação cai levemente para 95% no caso do gás natural. Até 2021, o maior fornecedor de ambos os combustíveis fósseis era a Rússia, via gasodutos que conectam os países por terra e pelo mar Báltico, pelos gasodutos Nord Stream e Nord Stream 2.

As sanções contra a Rússia e a operação de sabotagem contra os gasodutos russo-germânicos, organizada aparentemente pelos serviços de inteligência norte-americanos, colocaram a Alemanha numa situação crítica. Acrescenta-se à crise a desativação do último reator nuclear no país em abril deste ano, após décadas de pressão de movimentos ambientalistas para que o país abandonasse o uso da energia nuclear (Germany has shut down its last three nuclear power plants, and some climate scientists are aghast, CNBC, 18/4/2023).

Ao longo do tempo, as sanções econômicas contra a Rússia revelaram-se efetivamente sanções contra a economia europeia. A falta de gás será suprida pelos norte-americanos a um preço muito mais elevado, uma vez que mais terminais receptores de gás natural liquefeito forem instalados nos portos europeus. A alternativa, uma transição energética para fontes renováveis mais acelerada, que reduz a competitividade da indústria europeia enquanto seus concorrentes usam e abusam de seus combustíveis fósseis, incorre em outro problema: a dependência de cadeias produtivas oriundas da China.

Controle das fontes renováveis

O país asiático é responsável por 80% da produção de silício policristalino, matéria-prima para a fabricação das células fotovoltaicas, além de dominar a cadeia produtiva até a fabricação de módulos fotovoltaicos, dos quais a China é responsável por 74,7% da produção (Solar PV manufacturing capacity by country and region, 2021, International Energy Agency, 05/07/2022). Quanto à energia eólica, o cenário não é muito mais promissor. Das dez maiores fabricantes de turbinas, seis são chinesas, incluindo a Goldwind que, em 2022, instalou geradores com potencial de geração de 12,7GW ao redor do mundo (Goldwind and Vestas in Photo Finish for Top Spot as Global Wind Power Additions Fall, BloombergNEF, 23/3/2023).

Para finalizar esse quadro tenebroso para os pretensos donos dos mercados internacionais, duas empresas chinesas controlam 46% do mercado de baterias. Novamente, dentre as dez maiores fabricantes da peça fundamental para a transição de veículos baseados em motores a combustão para motores elétricos e que também garante a viabilidade de fontes renováveis como as energias eólica e solar, seis são chinesas (The Top 10 EV Battery Manufacturers in 2022, Visual Capitalist, 5/10/2022).

A dominação chinesa desse mercado foi acelerada. Reportagem de 2017 do jornal britânico Financial Times indicava que a japonesa Panasonic e as sul-coreanas LG e Samsung ainda dominavam o mercado de fabricação de baterias de alta densidade, usadas primariamente em veículos elétricos. Mas também apontava, segundo analistas do banco norte-americano Goldman Sachs, que os subsídios oferecidos pelo governo chinês e o enorme mercado consumidor do país reverteriam a situação em pouco tempo, o que é demonstrado pelos dados atuais.

“A abordagem da China tem ecos da que adotou em relação à energia solar uma década atrás. Ela dominou o setor ao reduzir custos e reduzir os preços em 70% e poderia fazer o mesmo com as baterias, diz Gordon Orr, ex-presidente da McKinsey para a Ásia. Isso tornaria os carros elétricos mais competitivos – as baterias respondem por até metade do custo total do veículo – mas também pode significar uma perda drástica de participação de mercado para fabricantes no restante da Ásia, Estados Unidos e Europa.” (Electric cars: China’s battle for the battery market, Financial Times, 5/3/2017).

Se a exploração de combustíveis fósseis coloca o imperialismo em rota de colisão com países como Irã, Venezuela, Rússia e seus próprios vassalos como a Arábia Saudita – que recentemente reatou suas relações com o vizinho persa em acordo de paz mediado pelos chineses –, a transição energética coloca o bloco de países que controla os mercados mundiais em confronto direto com a China.

A relativa diminuição do controle imperialista sobre a economia global fica visível na crescente presença militar russa na África, por forças militares privadas como o Batalhão Wagner, e até mesmo na Síria, onde o governo russo foi oficialmente convocado pelo governo de Bashar Al-Assad para combater as forças golpistas bárbaras dentro de seu país, contra os interesses norte-americanos. Aparece também na crescente presença de empresas chinesas financiando empreendimentos na Ásia Central, na África e na América Latina, no projeto conhecido como a “Nova Rota da Seda”. 

Os chineses buscam organizar uma cadeia de produção global que contorna a dominação imperialista, algo que também é de interesse dos demais países de capitalismo atrasado. Há, por trás dessa iniciativa, uma corrida pelo controle de recursos minerais importantes como o lítio, fundamental para a fabricação de baterias, e as “terras raras”, minerais fundamentais para a fabricação de componentes eletrônicos de alta tecnologia usados tanto em itens de consumo, como celulares e computadores, como em equipamentos militares.

Essa é a essência por trás dos subsídios econômicos oferecidos pelos países imperialistas, assim como pelo crescente número de sanções aplicadas a seus adversários políticos e econômicos, que se somam a barreiras tarifárias completamente estranhas aos conceitos de “livre mercado” defendidos pela Organização Mundial do Comércio e pela ideologia neoliberal. 

Do neoliberalismo ao protecionismo

Cresce a cada dia mais a lista de empresas chinesas sancionadas pela legislação norte-americana em áreas de atuação que vão desde a fabricação de painéis solares a baterias e semicondutores. Este ano, o governo norte-americano arbitrariamente proibiu o compartilhamento de sistemas avançados de litografia ultravioleta que permitem a fabricação de semicondutores de alto desempenho e coagiu seus “parceiros” japoneses e holandeses a fazerem o mesmo (How US-Japan-Netherlands agreement on chip export restrictions may play out in China, South China Morning Post, 1/2/2023). A medida visa bloquear o acesso chinês à manufatura desses componentes, hoje concentrados majoritariamente em Taiuan, na fabricante de semicondutores TSMC, responsável por fabricar mais da metade dos chips do mundo.

As medidas protecionistas, porém, podem comprometer a própria coesão do bloco imperialista. Os europeus já foram particularmente prejudicados pela política de agressão contra a Rússia e não há acordo sobre como se desligar economicamente da China.

“Para o Ocidente, a dissolução de laços comerciais de longa data levará tempo. Mesmo depois que a Rússia invadiu a Ucrânia, os membros do G7 decidiram não impor uma proibição total de suas exportações para a Rússia. E embora a UE não esteja mais importando petróleo diretamente de Moscou, o bloco o está fazendo indiretamente, comprando suprimentos com desconto de países que se recusaram a sancionar a Rússia – incluindo China, Índia e Turquia. Ainda assim, a tendência é clara: o Ocidente está trabalhando para fechar brechas nas sanções e acelerar sua transição para energia limpa e combustíveis fósseis que não vêm da Rússia.

“Reduzir a conectividade com a China será mais difícil, e não apenas porque o Ocidente tem laços econômicos muito mais extensos com Pequim do que jamais teve com Moscou. Há menos consenso sobre como administrar as relações com a China. Washington considera Pequim – nas palavras da Estratégia de Segurança Nacional de 2022 – como ‘o único concorrente com a intenção de remodelar a ordem internacional e, cada vez mais, o poder econômico, diplomático, militar e tecnológico para fazê-lo’. Mas a vista de Bruxelas é menos nítida. Em um documento de março de 2019, a Comissão Europeia definiu a China como ‘parceira de cooperação’ e ‘parceira de negociação’, ao mesmo tempo em que a chamou de ‘concorrente econômica’ e ‘rival sistêmica’. A fim de desenvolver uma abordagem mais coordenada, os líderes dos Estados Unidos e da Europa descartaram amplamente as conversas sobre dissociação em favor da ‘redução de riscos’. Além disso, eles concordam cada vez mais que reduzir a interdependência com a China em áreas centrais de tecnologia de fronteira é um imperativo econômico e de segurança. Essa preocupação atualmente se concentra na computação, mas é provável que abranja outros domínios ao longo do tempo, incluindo bioinformática e energia limpa.” (The Dangers of Detachment, Foreign Policy, 31/7/2023)

O consenso sobre a necessidade de uma transição energética não resiste à sua implementação. Por trás dos belos discursos sobre preocupação com o meio ambiente e a mudança climática, há uma luta encarniçada dos países atrasados por seu desenvolvimento econômico e dos países imperialistas entre si, pelo controle da economia mundial.

“É como uma declaração de guerra”, disse Robert Habeck, o vice-chanceler e ministro da economia alemão, segundo reporta o Financial Times. “Eles [os norte-americanos] querem ter os semicondutores, a indústria solar, eles querem a indústria de hidrogênio, eles querem os eletrolisadores”, continuou (A global subsidy war? Keeping up with the Americans, Financial Times, 13/7/2023).

Reindustrialização?

Apesar dos subsídios, há ainda um problema prático no que diz respeito à implementação da dita “reindustrialização” dos países imperialistas. Décadas de política neoliberal destruíram boa parte das forças produtivas dos principais países capitalistas – à exceção parcial de Alemanha e Japão – ao provocar uma transferência dos meios de produção para países com mão-de-obra mais barata na Ásia e no Leste Europeu e, ao mesmo tempo, uma crescente financeirização de suas próprias economias. A movimentação deu-se principalmente graças à quase simultânea abertura da China e queda da União Soviética no final dos anos 1980, mas a tendência econômica já era visível com a instalação de fábricas em Hong Kong, Taiuan e Coreia do Sul.

Desde o início da administração Biden, em 2021, o gasto médio anual em construção de fábricas mais do que dobrou de cerca de US$ 75 bilhões para US$ 200 bilhões. O mero subsídio dos capitalistas para retornarem seu capital aos Estados Unidos – e demais países imperialistas – não é suficiente. Em 2014, a fábrica da Motorola, que recebeu apoio do governo do Texas para instalar-se no estado, encerrou suas atividades com pouco mais de 700 trabalhadores em atividade, apenas uma fração dos milhares de empregos prometidos. O fechamento da fábrica culminou com a venda da Motorola do Google à chinesa Lenovo, numa transação que resultou num prejuízo de US$ 1 bilhão à empresa norte-americana (Google’s Motorola Mobility to Close Factory in Texas, The Wall Street Journal, 30/5/2014).

Soma-se à iniciativa no Texas a instalação do parque industrial da Foxconn em Wisconsin, onde o estado investiu US$ 3 bilhões na promessa de que a empresa taiuanesa criaria 13 mil empregos “de qualidade”. Em 2020, a fábrica encontrava-se praticamente abandonada com um efetivo de 600 trabalhadores (Foxconn in Wisconsin: tech mega-deal faces reality check, Financial Times, 6/10/2022). 

Finalmente, o parque industrial de painéis solares de Buffalo, no estado de Nova Iorque, custou ao estado US$ 1 bilhão e hoje está nas mãos da Tesla, alugada pelo preço simbólico de um dólar por mês, com pouco mais de mil empregos gerados e uma produção pífia, muito abaixo das exageradas promessas de Elon Musk.

A dificuldade em repatriar certos setores da produção por parte de países imperialistas, em particular os Estados Unidos, dá-se não pelo alto grau de exigência dos trabalhadores, que tiveram seus sindicatos destruídos e boa parte de seus direitos demolidos ao longo de décadas de neoliberalismo, mas pelo alto custo de vida. O alto grau de endividamento da classe operária com gastos em educação, saúde e moradia.

O inquilino médio norte-americano gasta 30% de sua renda com aluguel (The average American tenant is rent-burdened. Here’s what that means for the economy., The Hill, 21/2/2023). Soma-se a isso os gastos exorbitantes com tratamentos médicos e medicamentos, estimados em mais de US$ 12.900,00 por ano para cada cidadão norte-americano (WHY ARE AMERICANS PAYING MORE FOR HEALTHCARE?, Peter G. Peterson Foundation, 14/7/2023) e as dívidas estudantis que pesam sobre os trabalhadores qualificados norte-americanos do momento que ingressam no mercado de trabalho até a aposentadoria (2023 Student Loan Debt Statistics: Average Student Loan Debt, Forbes, 16/7/2023).

Não há como reverter os efeitos da política neoliberal sem entrar em confronto com os interesses dos monopólios e especuladores monopolistas. 

Guerra pelo controle

A preocupação com o meio ambiente e com a falta de empregos de qualidade nas economias ditas “pós-industriais” não passa de uma fachada para uma luta desesperada pela dominação da economia mundial. Talvez a maior prova de que a defesa do meio ambiente não passa de demagogia seja o fracasso dos “investidores ativistas” que buscam “Governança ambiental e social” (ESG, na sigla em inglês). Uma análise publicada pelo Financial Times demonstrou que empresas com um alto índice de ESG causam tanto mal ao meio ambiente quanto seus pares com baixos índices (Eco-awareness not reducing carbon emissions – study, RT, 2/8/2023).

O imperialismo como força social não tolera concorrência. Dessa forma, as contradições econômicas entre os BRICS, em particular China e Rússia, e o bloco imperialista, e até mesmo suas contradições internas, caminham não para um “mundo multipolar”, mas para um conflito cada vez mais aberto. As guerras comerciais, de sanções, subsídios e impostos sobre importação, devem se desenvolver em confrontos quentes como o travado pela Rússia na Ucrânia, que completa um ano e meio no mês de agosto.

Nesse cenário, a defesa da preservação integral da Amazônia, incluindo a costa brasileira, em grande medida uma forma de bloquear o acesso aos recursos minerais dessas regiões à economia global, pode reverter-se rapidamente na exploração irracional e selvagem por parte dos países imperialistas caso a situação internacional se modifique. Na década passada recorreram à exploração de petróleo de xisto, apesar das consequências ambientais decorrentes do fraturamento hidráulico, conforme feito atualmente. A exploração de recursos minerais em águas profundas, se antes era tida como um grande mal ambiental, passou a ser a principal solução para a retomada do controle da produção de certos recursos minerais (International talks end without go-ahead for deep-sea mining, The Guardian, 29/7/2023). 

O ambientalismo é apenas um véu que oculta uma luta selvagem pelo controle da economia global. A transição energética faz-se necessária não porque salvaria o planeta, mas porque é essencial para a manutenção da ditadura imperialista cada vez mais frágil sobre os países atrasados, ricos em recursos naturais cada vez mais escassos nas economias capitalistas desenvolvidas.

Às vésperas da explosão da Segunda Guerra Mundial, propostas de reversão da cadeia produtiva global também tornavam-se cada vez mais populares. Não apenas nos Estados controlados pelo fascismo, como Itália, Alemanha e Japão. A ideia era popular entre todas as economias imperialistas. Observando esses acontecimentos, o revolucionário russo Leon Trótski iniciou seu prognóstico da seguinte maneira:

“O fascismo italiano proclamou o ‘egoísmo sagrado’ nacional como o único fator criativo. Após reduzir a história da humanidade à história nacional, o fascismo alemão passou a reduzir a nação à raça e a raça ao sangue. Além disso, naqueles países que politicamente não se elevaram – ou melhor, descenderam – politicamente ao fascismo, os problemas da economia estão sendo cada vez mais forçados a se encaixar nas estruturas nacionais. Nem todos têm coragem de inscrever ‘autarquia’ abertamente em suas bandeiras. Mas em todos os lugares a política está sendo direcionada para uma segregação tão hermética quanto possível da vida nacional longe da economia mundial. Há apenas vinte anos, todos os livros escolares ensinavam que o fator mais poderoso na produção de riqueza e cultura é a divisão mundial do trabalho, alojada nas condições naturais e históricas do desenvolvimento da humanidade. Acontece que, agora, a troca mundial é a fonte de todos os infortúnios e perigos.” (Nationalism and Economic Life, Foreign Affairs, Leon Trótski, abril/1934).

A coesão do bloco imperialista não está tão acentuada como no período posterior à Primeira Guerra Mundial, quando Trótski escreve, mas a degradação das relações entre esses países, há décadas sob dura dominação norte-americana, já é visível. Soma-se a isso novos fatores: a luta pela partilha dos mercados internacionais entre os países imperialistas se dá ao mesmo tempo que o desenvolvimento capitalista explosivo de países como China e Índia, enquanto outros países atrasados como Rússia e Brasil lutam para retomar seu papel na produção global. Há ainda uma rebelião cada vez mais generalizada de países africanos, os mais esmagados pela dominação imperialista.

O protecionismo voltou à moda e chavões nacionalistas não saem apenas da boca de Trump, tido como “fascista”, como saem da de Biden. O nacionalismo, como sempre, é o último refúgio de uma burguesia covarde e decadente. 

Novamente, conceitos econômicos tidos como fundamentais, como a divisão mundial do trabalho, são colocados em xeque. O regime político decai, assim como na época de Trótski, conforme a burguesia não consegue mais sustentar nem mesmo nos países desenvolvidos uma aparência de democracia. A censura atingiu um patamar sem precedentes numa época em que a humanidade encontra-se mais conectada do que nunca.

Um fator fundamental, porém, é diferente da época de Trótski. A decadência imperialista e a destruição neoliberal das forças produtivas impeliram os países atrasados numa luta contra a dominação imperialista. Uma luta inevitável e revolucionária.

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